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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Por que o PSOL declara “Nenhum voto a José Serra!”?

Por Edilson Silva
No último dia 15 de outubro a Executiva Nacional do PSOL reuniu-se em São Paulo para debater e definir o posicionamento do partido no 2° turno das eleições presidenciais. Após um longo debate, que foi precedido de plenárias e audiências com filiados e colaboradores nos estados, o PSOL declarou “nenhum voto a José Serra” e entendeu como legítimas as opções de voto crítico em Dilma Rousseff e os votos nulo e branco.


Óbvio que as declarações da direção do PSOL têm o objetivo de subsidiar todos aqueles que têm referência política em nosso partido. Os eleitores do PSOL, redundante dizer, são sujeitos esclarecidos e livres para definir o seu voto. É assim na democracia, a liberdade é insubstituível.


Mas afinal, o que levou o PSOL a tomar esta decisão? Não se trata, como se pode perceber na nota pública do PSOL, apenas de diferenças mínimas no plano programático entre Dilma e Serra, ou entre PT e PSDB, que seriam talvez insuficientes para justificar tamanha distinção.


O que mais chamou a atenção do PSOL é a movimentação que acontece majoritariamente no subterrâneo deste processo eleitoral e, particularmente, neste 2° turno. Há, inegavelmente, o cozimento de um caldo de cultura de intolerância, de maniqueísmo e de discriminação no seio da sociedade.


Muito infelizmente, a candidatura de José Serra é o núcleo central onde orbitam os atores que patrocinam este perigoso retrocesso. Digo infelizmente por que José Serra não é um sujeito cuja história confunda-se com posicionamentos atrasados culturalmente. Digamos que ele pode até ser chamado de um liberal com certo grau progressista na sua trajetória.


Mas Serra se dispôs a liderar, ou tolerar, uma cruzada medieval, que aglutina forças ultra-conservadoras, com o objetivo único de vencer essa eleição. A face mais visível desta cruzada são setores religiosos fundamentalistas que não aceitam o caminho do Estado laico e de sociedade plural que o Brasil persegue. O vice de Serra, Índio da Costa, do DEM, dá a moldura político-ideológica para o que seria um comando nacional de caça aos esquerdistas, socialistas e comunistas, perseguição aos movimentos sociais e criminalização das oposições (chamadas por ele de terroristas).


Isso tudo já existia no 1° turno, como algo ainda marginal no debate político, mas ganhou muita força no 2° turno. Serra, de forma oportunista e irresponsável – repito, contradizendo sua trajetória -, resolveu surfar neste tsunami, trocando sua palavra de ordem do 1° turno de “O Brasil pode mais” para “Serra é do bem”. Se Serra é do bem, subentende-se que seus opositores seriam do mal. Qualquer conclusão que aponte para uma peleja entre Deus e o diabo não é mera coincidência.


A vitória de Serra, portanto, pode ser entendida por amplos setores como uma vitória do “bem” (sabe-se lá o que isto pode representar) contra o “mal” (tudo o que é diferente deste “bem”), e esta sensação de vitória pode abrir as comportas para sentimentos e práticas até então devidamente represadas numa consciência social majoritariamente contrária às práticas intolerantes.


É um debate obscurantista lamentável, mas que não podemos fugir dele. A sociedade brasileira, em seus incontáveis movimentos e entidades sérias, luta cotidianamente contra a intolerância às diferenças culturais que temos. É assim, por exemplo, nas entidades do movimento negro, que lutam contra a intolerância religiosa aos cultos de matriz africana. Uma luta que não raro vai parar em delegacias de polícia e em tribunais.


A candidatura de Serra está dando corpo a uma cultura que após ganhar as ruas com gosto de vitória pode tornar-se incontrolável, indomável. O PSOL tem compromisso não só com governos e com um Estado democrático, libertário e republicano, tem também compromisso com a construção de uma sociedade tolerante, plural e de espírito socialista, por isso Serra, neste 2° turno, que se configura como um plebiscito, recebe nosso mais contundente veto.


*Presidente do PSOL-PE, membro da Executiva Nacional do PSOL, ex-candidato ao governo de Pernambuco nas eleições 2010.





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