Por Edilson Silva /publicado no blog para o Acerto de Contas
Apesar da história ter desmentido Francis Fukuyama – o homem que decretou o fim dela, a história -, há um insistente discurso de “especialistas” de que não há espaços para o desenvolvimento de alternativas por fora das doutrinas econômicas e políticas hegemônicas. No Brasil, a era Lula reforçou de forma particular este discurso. Não precisamos dizer o porquê.
Fundamos o PSOL em 2004 e o legalizamos em 2005 para fazer um contra-ponto a esta tese, sem querer, de forma alguma, sermos o farol a guiar a reorganização de um campo popular de esquerda no Brasil. Esta tarefa está claramente para além das forças singulares do PSOL.
Apreender as contradições estruturais do dinamismo econômico e político-ideológico deste início de século 21, sob uma ótica revolucionária, e transformar esta teoria em prática e organização política igualmente revolucionária, deverá envolver profundo esforço intelectual e ainda mais esforços subjetivos na organização popular de uma classe que hoje se encontra multifacetada, em crise de identidade, num mundo do trabalho em constante metamorfose.
Intelectuais como François Chesnays, Immanuel Wallerstein, Istvan Meszaros e Ricardo Antunes, para citar apenas alguns, têm dado singular contribuição nesta empreitada de restabelecer um horizonte paradigmático, sempre dinâmico é bom dizer, que se apresente como uma referência mínima comum o mais segura possível no plano teórico para a reorganização política daqueles que estão em contradição com o capitalismo.
No plano da reorganização sindical e popular no Brasil, há muitos esforços sendo feitos, e o PSOL participa deles, como a tentativa de se construir uma nova central sindical que seja realmente independente do Estado e de seus governos. Contudo, estas tentativas, no Brasil, se ressentem da falta de uma resolução amplamente majoritária no plano analítico. Quem é a classe trabalhadora hoje? Onde ela está? Que pautas podem unificar o camelô e o petroleiro, por exemplo? É possível isto? Os movimentos por reivindicações humanísticas e ambientalistas estão inseridos numa perspectiva de classe? Responder a estas questões com mantras e dogmas é o caminho da caricatura política, da preguiça intelectual, caminho que o PSOL rejeita.
Mas existe outra frente em que se desenvolvem batalhas políticas e ideológicas, e nesta frente o PSOL também atua e começa a colher resultados. Trata-se do terreno eleitoral. Neste plano, na maioria dos estados brasileiros partimos praticamente do zero, como foi o caso de Pernambuco, com nossa primeira eleição em 2006. Estabelecemos, desde o princípio, que iríamos perseguir o resgate de um voto de opinião, crítico, de esquerda, porém voltado também para a massa da população.
As eleições de 2010 ainda não foram encerradas, mas a participação do PSOL em Pernambuco já alcançou uma importante vitória: colocamos na pauta o tema da esquerda, do socialismo, da ética numa perspectiva política e não meramente moral. Fizemos isto apresentando propostas viáveis sob a ótica dos socialistas para praticamente todas as áreas da gestão pública. Fizemos com coragem, firmeza, denunciando as inverdades dos postulantes dos grandes grupos que se revezam no poder. Fizemos uma campanha republicana, utilizando de todos os mecanismos constitucionais previstos para construir propostas que viabilizassem a socialização do poder e da riqueza em nosso Estado.
O resultado é que nossa candidatura em Pernambuco já se tornou um importante pólo de atração de forças vivas bastante relevantes. Conquistamos, antes dos votos, respeito ao nosso projeto/candidatura. As manifestações de apoio de entidades, personalidades, da população nas ruas, dão mostras de que estamos conseguindo resgatar o voto crítico, de opinião, de esquerda. Este é um processo lento, que está apenas começando, e ainda vai dar muitos frutos. Estamos no caminho certo.
Edilson Silva é Presidente do PSOL/PE e candidato ao governo de Pernambuco
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