Por Edilson Silva
O PSOL colocou entre as suas alternativas de voto neste 2° turno presidencial o voto nulo. Colocou também como opção legítima para a sua militância o voto crítico em Dilma Roussef, descartando assim qualquer possibilidade de voto no candidato do PSDB, José Serra. Com isto, o PSOL sai do terreno da neutralidade pura e simples e acompanha solidariamente o sentimento progressivo que importantes setores de esquerda da sociedade têm em relação às diferenças entre as duas candidaturas que disputam o 2° turno.
Esta definição do PSOL, no entanto, vem colocando-nos diante de debates muito interessantes acerca do que significa o voto nulo. Tenho ouvido, tanto de membros do PSOL como de colegas e de pessoas as mais variadas não vinculadas ao PSOL, sobre a força e a qualidade do voto nulo. Segundo estes, o número de votos nulos no 1° turno seria impressionante, uma verdadeira força subterrânea, um recado contundente das urnas contra o regime político. Agora, no 2° turno, ainda segundo estes, esta força poderá ser ainda maior.
Senti a necessidade de refletir coletivamente sobre o assunto, sobretudo porque achei o voto nulo no 1° turno destas eleições presidenciais um despropósito, por dois motivos, essencialmente: o fato da existência de um largo espectro de candidaturas colocadas nesta etapa e, mais ainda, diante do fato de não vermos absolutamente nenhuma movimentação política minimamente relevante no sentido de dar organização e força política para estes eleitores do Sr. Nulo.
Penso que este voto nulo no 1° turno, em regra, seria uma manifestação anarquista porra-louca, pois não há nas regiões com maior incidência de nulos uma correspondência em atos anti-governo, anti-regime, anti-eleição ou anti-qualquer coisa. Cito o Pará, por exemplo, que possui alto índice de nulos e onde a mobilização direta seria muito necessária para questionar iniciativas muito danosas à sociedade, como as grandes hidroelétricas, a exemplo de Belo Monte. As poucas mobilizações, quando existem, são impulsionadas e garantidas em geral por militantes partidários que lançam candidatos no 1° turno e, portanto, não votam nulo. Onde estaria a massa de anuladores de voto nestes momentos?
De outra forma este voto nulo no 1° turno poderia então, em regra, ser de sujeitos que protestam única e exclusivamente contra a obrigatoriedade do voto. Logo, estaríamos diante de sujeitos que não vêem nas eleições mais do que um atentado à sua liberdade e/ou direito subjetivo de não comparecer às urnas. Seriam, no caso, liberais que desprezam o fazer coletivo em favor de seu individualismo, e a conseqüência óbvia é que este liberalismo civil exacerbado, que se mistura malandramente com liberdade – e que neste terreno pouco deve aos anarquistas e vice-versa-, descamba é para o liberalismo econômico. Laissez faire! Laisser passer! Ainda bem que nosso liberalismo não chega a tanto.
Logo, há uma diferença substancial entre a resolução do PSOL que admite o voto nulo no 2° turno destas eleições e aqueles votos nulos do 1° turno. O PSOL fará oposição popular, parlamentar e institucional organizada tanto a Serra quanto à Dilma. Disputamos as eleições no 1° turno, criticamos, denunciamos, propomos alternativas, elegemos alguns parlamentares e agora continuamos a nossa luta, buscando organizar o povo em favor de seus direitos, inclusive o direito a eleições democráticas.
Acreditamos na organização popular e no despertar de um ser coletivo de dentro de cada homem e de cada mulher, de cada jovem, de cada cidadão. Acreditamos na solidariedade, na fraternidade, na democracia, na igualdade e na liberdade, por isso não nos confundimos com a perspectiva liberal-individualista e/ou anárco-irresponsável, que acaba servindo ao ideário da barbárie social, filha inevitável do capitalismo selvagem.
Presidente do PSOL-PE
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