Por Edilson Silva
A sociedade pernambucana acompanhou nos últimos dias a peleja em torno da realização da Festa da Lavadeira. Os milionários da Odebrecht queriam acabar com a festa, que é um evento tradicional, de motivação religiosa, protegido por legislação estadual. Tentaram de tudo, mas o povo compareceu e fez a atividade religiosa e sua inseparável face festiva se impôs diante do poder econômico.
A Festa esteve praticamente inviabilizada até as 12 horas do sábado, 30/04, quando numa difícil negociação conseguimos garantir um aditamento no TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) feito com o Ministério Público, garantindo juridicamente alguns toldos para proteger as pessoas do sol e da chuva e também uma mínima estrutura de som, para viabilizar a organização dos presentes.
Esta negociação não seria possível sem a disposição infinita da organização da festa para o diálogo e sem o esforço do Ministério Público, através da promotora Janaina Bezerra, e do deputado estadual Waldemar Borges, líder do governo na Assembleia Legislativa, que passaram praticamente o final de semana mobilizados para garantir um mínimo de condições para a realização do evento. Ainda no sábado, às 18 horas, a prefeitura do Cabo não havia retirado as cercas da área pública da Festa, exigindo sempre a intermediação do Ministério Público.
O dia de domingo começou com as cercas ainda de pé na praia. Mais grave: a praia do Paiva passou todo o dia 1º de Maio sem energia elétrica. Coincidência macabra, a prefeitura do Cabo esqueceu-se de colocar o transformador que aumenta a capacidade de fornecimento de energia elétrica no dia da atividade. Será que ela adivinhou que no dia seguinte faltaria energia elétrica e resolveu então economizar na instalação¿
O que tudo indica ter sido um boicote no fornecimento de energia elétrica indica também que o objetivo também era cortar por tabela a água no dia da festa, e conseguiram. A Festa aconteceu sem água e sem energia elétrica, o que inviabilizou também algumas atividades do Dia do Trabalhador na Festa da Lavadeira, como a instalação de um painel para projeção de vídeos e imagens em favor da Festa.
Além disso, uma verdadeira campanha invadiu a internet na véspera do evento, “informando” à população que a festa não aconteceria. Turistas e outros participantes diziam que “pessoas da prefeitura” estavam nos acessos à praia do Paiva “informando” também que a festa não aconteceria. O Jornal do Commercio de hoje, 02/05, constatou que não havia uma única placa indicando o local da Festa.
Hipocritamente, as pessoas que adentravam na praia do Paiva pelos pedágios ganhavam um leque, brinde da Reserva do Paiva (o condomínio milionário), fazendo alusão à Festa: “Se beber, não dirija. Festa da Lavadeira, Religiosidade e Tradição”. Essa gente é pouco séria.
Mas foi exatamente transpondo tudo isto que o povo foi à Festa, o que deu um caráter especial para a 25ª edição. Milhares de pessoas, cujos ônibus não podiam entrar na praia do Paiva, caminharam cerca de 1 km pela areia, numa verdadeira romaria, debaixo do sol e da chuva, para fazer valer sua tradição. Dezenas de grupos culturais apresentaram-se, no chão, fazendo uma grande celebração à resistência popular contra a ditadura do poder do dinheiro.
Tribos de grafiteiros realizaram um mutirão na Festa, fazendo de sua arte um grito de denúncia e protesto em favor da Festa. Entidades como o SIMEPE (Sind. Médicos), CUT, UCS e CSP-CONLUTAS, movimento Ecossocialista, PSOL, todos participantes da Assembleia Popular em defesa da Festa, também fizeram-se presentes, fortalecendo a idéia de levar ao evento a simbologia do Dia do Trabalhador.
Foi uma manifestação emocionante de resistência popular. Esta resistência agora vai crescer e a 26ª edição da Festa da Lavadeira já começou. Venceu nesta batalha o interesse social, a razão, a sensibilidade com a cultura da nossa gente, mas nada disso seria possível sem a força e a organização popular, que foram os maiores protagonistas desta 25ª edição da Festa da Lavadeira.
Presidente do PSOL-PE
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