Eleições
municipais: um PSOL mais forte e vitorioso
1. O Partido
Socialismo e Liberdade enfrentou as eleições de 2012 num quadro ainda marcado
pela estabilidade da hegemonia burguesa no Brasil. Essa estabilidade tem
assegurado a adoção medidas conservadoras que impediram até aqui que os efeitos
da crise econômica mundial fossem mais fortemente sentidos internamente. A
redução das taxas de juros com indução do investimento interno – justificado,
sobretudo, pelas grandes obras de infraestrutura com vistas aos mega eventos
esportivos – aliado à forte política de renúncia fiscal e manutenção do
consumo, criaram barreiras temporárias aos efeitos da crise internacional. Evidentemente,
essas medidas não são sustentáveis, uma vez que aprofundam a dependência
externa e deixam o país vulnerável à instabilidade do mercado. Basta lembrar,
por exemplo, que a recente desaceleração da economia chinesa vinha impactando
fortemente a balança comercial brasileira nos últimos meses, situação que dá
sinais de reversão.
2. No
cenário político interno, a manutenção do consumo e dos investimentos públicos
e privados – em grande medida financiados pelo BNDES, hoje o segundo maior
banco de fomento do mundo – geraram um sentimento de relativa segurança
econômica para os trabalhadores. Não por outra razão, Dilma e seu governo
ostentam níveis elevadíssimos de aprovação. A oposição conservadora, por seu
compromisso com o atual modelo econômico, não tem conseguido apresentar-se como
alternativa. Contudo, os limites do atual projeto político e
econômico, representados pela incapacidade de atender às reivindicações
populares por aumento salarial, reforma agrária e urbana, serviços públicos de
qualidade e conquista de direitos, abre espaço para uma alternativa de esquerda
na política nacional. Por isso as eleições desse ano, embora de âmbito local,
ajudaram a credenciar o PSOL para ocupar um espaço mais expressivo no cenário
político brasileiro.
3. O saldo
das eleições municipais não representou alteração substancial da correlação de
forças entre os blocos políticos dominantes no país. A tendência de crescimento
do PT se manteve e a conquista da cidade de São Paulo foi o principal símbolo
desse avanço. Porém, dentro do condomínio que governa o país, outros atores
saíram-se fortalecidos, como o PSB, que pode agora ensaiar voos mais audaciosos
em 2014 ou ter papel de maior destaque na atual coalizão. Considerando os seus
cinco partidos principais (PT, PMDB, PSB, PDT e PCdoB) a
base do governo elegeu 2468 prefeitos e governará 55,18% da população
brasileira, além de terem vencido a disputa em 16 capitais.
4. A
oposição conservadora, mesmo vencendo em Manaus, Belém e Salvador, saiu enfraquecida.
Seus próceres acreditavam que o julgamento do Mensalão nacionalizaria o debate
das eleições municipais e que provocaria uma queda na votação do PT e dos seus
aliados. É verdade que em cidades importantes do Nordeste o PT perdeu as
eleições, mas motivos locais foram muito mais importantes do que temas
nacionais. Basta analisarmos a derrota em Salvador, relacionada diretamente à
rejeição do governo estadual petista, ou ainda, as derrotas em Fortaleza e
Recife, que devem ser creditadas à força de seus governadores. Considerando seus principais
partidos a oposição conservadora elegeu 1103 prefeitos e governará para apenas
20,14% dos brasileiros, elegendo sete prefeitos em capitais.
5. Foi nesse
cenário complexo que o PSOL enfrentou as eleições municipais desse ano:
eleições quase sempre marcadas muito mais por temáticas locais que pela situação
nacional. Como regra, mesmo as candidaturas do PSOL apresentaram-se como
alternativa de poder local, dialogando com a realidade dos municípios e evitando
transposições automáticas do cenário nacional, o que demonstra um amadurecimento
do partido. Conseguimos desenvolver na maioria das cidades de forma equilibrada
a relação entre o local e do nacional. Sobretudo nas capitais,
nossos programas de governo para os municípios trabalharam centralmente temas
como a dívida pública, a mobilidade urbana, a garantia de direitos como saúde e
educação, a defesa do meio-ambiente, o combate à corrupção, a participação
popular e o financiamento das campanhas. Enfim, temas com uma forte
correspondência com a realidade dos milhares de municípios brasileiros.
Por que o
PSOL cresceu?
6. O
resultado eleitoral positivo, porém, se deve a variados fatores. O PSOL se credenciou
através de sua presença nas lutas sociais para fazer a disputa de hegemonia na
sociedade e melhorar seu despenho eleitoral. A presença de nossa militância e
de nossos parlamentares em favor dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a
educação, defendendo a resistência popular na ocupação do Pinheirinho, nas
lutas do funcionalismo público, na greve dos Bombeiros no Rio de Janeiro e
combatendo as reformas no Código Florestal – transformando o PSOL em
referência da luta ambiental – fortaleceram o partido como referência política
de esquerda. Além disso, nosso protagonismo na CPI do Cachoeira com nossos
deputados federais e nosso Senador, e nossa iniciativa de pedir a cassação do
mandato do Senador Demóstenes Torres, reafirmou nosso compromisso com a ética e
nossa independência política.
7. Ademais,
o equilíbrio correto entre a ação institucional e nossa presença nas lutas
sociais demonstra que o partido caminha para afirmar-se como alternativa viável
às eleições de 2014. Demonstramos a importância de uma participação qualificada
no processo eleitoral, combinando uma tática correta de ampliação com o acúmulo
prévio que se deu na luta popular e institucional. Nosso crescente enraizamento
popular e nossa ação parlamentar competente e reconhecida demonstram que temos
evitado tanto a priorização da institucionalidade
quanto o movimentismo despolitizado.
8.
Apresentando-se como alternativa de esquerda, nosso partido cresceu. Fomos o partido
com o maior número de candidatos a prefeito nas capitais, na maioria dos casos
em chapas sem coligações. Recebemos 2,3 milhões de votos no primeiro turno para
prefeito e 1,1 milhão de votos para nossa chapa de vereadores. No segundo turno
tivemos 473 mil votos, mesmo disputando a eleição em apenas duas cidades.
Elegemos dois prefeitos: o companheiro Gelsimar
Gonzaga, em Itaocara (RJ), e o companheiro Clécio Luís, em Macapá, primeiro
prefeito do PSOL numa capital. Aumentamos de 25 para 49 o número de vereadores
eleitos, sendo 21 deles em capitais. Mantivemos ou ampliamos nossa bancada em
algumas das principais cidades do país (Porto Alegre, Fortaleza, Goiânia,
Niterói, Viamão, Maceió, Macapá e Rio de Janeiro) e elegemos nossos primeiros
vereadores em cidade importantes como Florianópolis,
Natal, Salvador, Campinas e Belém. Na cidade de São Paulo, maior cidade do
país, elegemos nosso primeiro vereador.
9.
Importante destacar, ainda, o virtual crescimento da votação do PSOL nas capitais.
Como regra geral, houve um incremento da votação majoritária do partido em
importantes cidades do país superando em muito o desempenho nas eleições de
2008. Destacam-se, dentre outras, as votações dos candidatos do PSOL em
capitais como Florianópolis (14,4%), Fortaleza (11,8%) e Boa Vista (10,6%) que
superaram a marca dos 10%.
10. Além
disso, o desempenho do PSOL nas cidades definidas como prioritárias pelo
partido em seu último Congresso – Rio de Janeiro, Belém e Macapá – mostram o
acerto de nossa tática. Pela primeira vez, nosso partido assumiu o papel de
principal antagonista às forças conservadoras em três importantes capitais,
sendo uma delas a segunda maior metrópole do país.
Principais
resultados
11. No Rio
de Janeiro, Marcelo Freixo alcançou 28% dos votos no primeiro turno, transformando-se
no principal candidato de oposição ao governo de Eduardo Paes (PMDB). Nem mesmo
nomes tradicionais na política carioca, como Rodrigo Maia (DEM) ou Otávio Leite
(PSDB), puderam fazer frente à força da candidatura de Freixo. Reelegemos
nossos vereadores e ainda conquistamos mais duas vagas na Câmara. Angariando o
apoio de amplos setores da juventude,
intelectualidade, movimentos sociais, artistas e deslocando setores partidários
contrários a participação no condomínio do poder estabelecido em torno do PMDB,
o PSOL impulsionou no Rio um extraordinário movimento de renovação política. A
juventude, em especial, cumpriu um papel de destaque nesse processo. Além do extraordinário
desempenho individual, Freixo ainda contribuiu com a ampliação da bancada do
PSOL na Câmara de Vereadores, ampliando a representação do partido de dois para
quatro parlamentares. O balanço no
Rio de Janeiro, portanto, só pode ser vitorioso: ao mesmo tempo em que
consolidamos nossa referência de principal polo aglutinador da esquerda carioca,
ampliamos nossa representação na Câmara de Vereadores e consolidamos nosso
trabalho político no capital.
12. Em Belém
e Macapá, a ida do PSOL ao segundo turno mostra a correção da política de
alianças aprovada pelo partido em seu III Congresso e referendada pelo
Diretório Nacional. Sem a ampliação do arco de alianças para a além da Frente
de Esquerda, o exíguo tempo de TV e o ainda incipiente enraizamento do PSOL
nessas e em outras capitais, teria impedido a ida de nossos candidatos ao segundo
turno. Assim, a presença do PCdoB na chapa de Edmilson Rodrigues em Belém, e do
PPS e outros partidos na chapa de Clécio Luís em Macapá, longe de comprometer
nosso programa ou nosso discurso (como chegou a ser defendido por alguns
setores) foi decisiva para assegurar nossa ida ao segundo turno nessas cidades.
13. Em
Belém, mesmo sendo derrotado no segundo turno, o partido teve uma grande
vitória política. Com pouco mais de um minuto conseguimos um terço dos votos da
cidade. Elegemos cinco vereadores em nossa coligação, sendo quatro do PSOL,
entre eles a companheira Marinor Brito com mais de 20 mil votos. Também por
isso, no primeiro turno nossa candidatura foi alvo de ataques impiedosos por
parte de quase todas as demais candidaturas. O esforço dos setores
conservadores de desconstrução da imagem de Edmilson e dos oito anos de Governo
do Povo, porém, não foi suficiente para impedir que nossa candidatura fosse ao
segundo turno em primeiro lugar. Evidentemente, essa campanha difamatória
cobrou seu preço, e a possibilidade de vitória ainda no primeiro turno deu
lugar a uma pequena vantagem sobre nosso adversário ao final dos primeiros
noventa dias de campanha. O otimismo que levou parte da militância a sonhar com
uma vitória no primeiro turno, porém, não deve obscurecer a
importância desse resultado.
14. No
segundo turno enfrentamos a frente única das elites e obtivemos 43% dos votos
da cidade. Foi um resultado conquistado pelos acertos da direção, pelo carisma
e disposição militante do nosso candidato, pela capacidade de ampliação de
alianças e pelo engajamento militante de milhares de pessoas, de diferentes partidos,
unidas em torno do sonho de restaurar um governo popular em Belém. Edmilson
conseguiu unir todos os setores progressistas em torno dele, experiência que
não pode ser diminuída. O PSOL se tornou, através dele, a principal referência
política da esquerda no Pará. Com isso, nosso partido se credenciou
duplamente: como importante força política naquele estado e como liderança da
oposição aos tucanos.
15. Em
Macapá, o PSOL buscou desde o primeiro momento apresentar-se como principal
alternativa à quadrilha que governou a cidade nos últimos quatro anos. Num
quadro muito adverso, lutando contra as máquinas eleitorais da Prefeitura, em
favor de Roberto Góes (PDT), e do governo estadual, em favor de Cristina Almeida
(PSB), o empenho de nossa combativa militância, o prestígio emprestado por
nosso Senador, Randolfe Rodrigues, e as qualidades individuais de nosso
candidato, levaram nossa coligação ao segundo turno.
16. Uma vez
no segundo turno, a engenharia política operada pela direção do PSOL em Macapá
logrou ao mesmo tempo, receber o apoio dos partidos de tradição progressista no
estado (PCdoB e PSB) quanto neutralizar adversário do campo conservador. O
apoio declarado pelo candidato do DEM, Davi Alcolumbre, e de outros setores ou
frações da direita local, embora sejam alvo de questionamento de setores do
partido, foi decisivo para a vitória do PSOL. A diferença de pouco mais de 1%
demonstra que, sem essa movimentação, teria sido impossível derrotar a máfia
que governa Macapá.
Principais
dificuldades
17. Porém,
não tivemos apenas vitórias nessas eleições. Em cidades importantes do país,
nosso desempenho ficou aquém do necessário. Principal expressão dessa situação
é São Paulo. Além disso, a eleição de pelo menos oito vereadores em coligações
não autorizadas ou expressamente vetadas pelo Diretório Nacional demonstram que
é necessário aprimorar o acompanhamento junto às direções estaduais e dar uma
solução política a esses casos. Ademais, houve casos onde mesmo a pronta
intervenção da Direção Nacional através de seus advogados não foi atendidas
pelos juízes eleitorais, permitindo que coligações vetadas fossem mantidas.
18. Além
disso, ficou claro que a beligerância interna que cercou o debate em torno da
política de alianças antes do início das eleições, impediu que o partido constituísse
uma linha mais unitária de intervenção nas disputas locais. Embora tenha se
constituído num avanço importante, o Seminário de Programa de Governo não foi
suficiente para armar nossas candidaturas com uma orientação comum na disputa.
A reestruturação da Fundação Lauro Campos e seu funcionamento como espaço
formulador de políticas para o partido e suas candidaturas
será um passo fundamental para suprir essas insuficiências nas próximas
eleições.
19. Outro
problema enfrentado pelo partido foram as declarações públicas em favor de
candidatos em cidades onde o PSOL estava fora do segundo turno. Independente da
avaliação sobre o melhor nome em disputas como essa, a posição da instância
local deve ser levada em conta, evitando assim declarações unilaterais que
contradigam deliberações por elas tomadas. A declaração do companheiro Randolfe
Rodrigues em favor do candidato Marcus Alexandre (PT) em Rio
Branco foi um erro já reconhecido pelo próprio companheiro em carta enviada ao
partido recentemente.
20. Mais
grave, porém, foram as declarações do companheiro Plínio de Arruda Sampaio,
ex-candidato à Presidência da República, em favor de José Serra, candidato
tucano em São Paulo. Independente de todo o respeito e admiração que nosso
partido nutre por ele, as declarações de Plínio nas redes sociais e sua indisfarçada
simpatia por Serra, trouxeram problemas graves à imagem do partido. Apesar da
posição da Direção Municipal ter aprovado resolução frontalmente contrária à
eleição do tucano, a declaração de Plínio teve uma repercussão muito maior, o
que trouxe danos ainda não mensurados à imagem do PSOL em São Paulo.
O segundo
turno em Belém e Macapá
21. Nossa
política de alianças, aprovada no III Congresso do PSOL, favoreceu uma tática
que ampliou a força eleitoral do partido, tornando reais as chances de vitória
nessas capitais. No segundo turno, recebemos adesões de partidos e forças
sociais que fortaleceram nossas candidaturas nas duas capitais citadas. Entre
eles, partidos com uma trajetória popular que reforçam nossa condição de alternativa
às velhas elites que governam Belém e Macapá, respeitando os limites impostos
pelas resoluções partidárias acerca da política de alianças estabelecida
para o primeiro turno.
22. Além de
partidos, é natural que candidatos derrotados no primeiro turno, personalidades
e lideranças políticas que estão fora do segundo turno definam-se pelo apoio às
nossas candidaturas. Essa decisão é pessoal e, como regra, não pode ser
renegada haja visto o próprio caráter plebiscitário do segundo turno. Assim,
esses apoios serão bem-vindos sempre que vierem no sentido de reforçar nosso
compromisso com o povo e não implicarem concessões programáticas ou negociação
de espaço em futuras administrações do PSOL.
23. As
movimentações táticas envolvendo Belém e Macapá no segundo turno foram amplamente
exploradas pela imprensa e pela luta interna do partido. É dever de nossa
Direção Nacional, portanto, posicionar-se diante dos fatos. Preliminarmente,
deve-se destacar o acerto da maioria da Direção Nacional e especialmente de nosso
Presidente, que esperou o fim das eleições para então convocar as instâncias
partidárias. A utilização de resoluções do partido, críticas ou não, por parte
de nossos adversários era um risco que não poderíamos correr. Ademais, as
dificuldades práticas impostas pelo envolvimento de vários dirigentes nas
campanhas em ambas as cidades, muito provavelmente inviabilizaria uma reunião
qualificada.
24. Pela
primeira vez nosso partido disputou as eleições em segundo turno e essa novidade
favoreceu o afloramento de divergências teóricas relevantes. Tais divergências
precisam ser aclaradas antes de qualquer avaliação específica. No primeiro
turno do processo eleitoral confrontamos projetos e a política de alianças está
condicionada a fortalecer e/ou dar viabilidade para que tal projeto se
apresente em condições de ter audiência perante o eleitorado. Foi por isso que ampliamos
o leque de alianças para além da antiga frente de esquerda, processo que foi criteriosamente
analisado pelo Diretório Nacional.
25. O
segundo turno é um momento plebiscitário por excelência, ou seja, de todos os
projetos em disputa, apenas dois conseguem votos para essa etapa. É natural que
os alinhamentos dos eleitores e das forças políticas sejam presididos não só pelo
programa apresentado pelos dois concorrentes, mas também pelos cálculos políticos
que cada força excluída da disputa fará sobre o possível resultado. Assim, cabe
aos revolucionários que disputam um segundo turno dois movimentos políticos
essenciais: neutralizar ou fracionar a coalizão conservadora e aglutinar todas
as forças progressistas existentes. O recebimento de apoios deve estar
condicionado a esta tática política plebiscitária.
26. Em
Belém, as forças conservadoras se alinharam de imediato ao candidato tucano,
galvanizadas pela força da máquina do governo estadual. A tática de Frente
Belém nas mãos do povo foi ampliar para candidaturas identificadas publicamente
como progressistas (PPL e PT) e tentar explorar contradições no bloco
conservador. Foi assim que se conseguiu o apoio do PDT (cuja direção culpa o
atual governador pelo resultado contrário à separação do estado). O apoio do PT
foi imediato e trouxe para o segundo turno um reforço militante muito
importante, seja potencializando a parte que já havia apoiado Edmilson, seja
engajando vereadores e deputados estaduais no dia-a-dia da campanha. Evidentemente,
esse apoio se deu, sobretudo, pelo interesse do PT em derrotar os tucanos, o
que apenas comprova que mantivemos nossa autonomia e independência em relação a
esse partido. Devido ao crescimento eleitoral dos tucanos sobre cidades
governadas pelo PMDB, este partido se absteve no segundo turno, comportamento
que foi importante para neutralizar uma poderosa máquina eleitoral local que
naturalmente estaria com o candidato conservador.
27. Apesar
do bom desempenho no primeiro turno, iniciamos o segundo turno em desvantagem.
Três problemas precisariam ser superados: imagem de que nossa candidatura era o
passado e o tucano a novidade; a ideia de que Edmilson estava isolado
politicamente para cumprir o que estava prometendo e Zenaldo tinha forte apoio
do Governador; e o discurso de que Edmilson foi um bom governante, mas era
necessário “dar uma chance” ao tucano. Nossa estratégia de TV e Rádio buscou
combinar a superação destes três entraves. Apresentamos um conjunto de
propostas novas para a cidade, mostrando que o novo governo enfrentaria
problemas represados. Buscamos comparar as biografias e denunciar o caráter
privatizante dos governos tucanos e mostrar que Zenaldo não era novo, mas
corresponsável pelos catorze anos de governo tucano na esfera estadual.
28. Estes
ajustes não surtiram o efeito desejado e continuávamos aparecendo aos olhos do
eleitorado como isolados para governar. Foi neste contexto de plena incorporação
do PT na campanha que decidimos utilizar depoimentos das duas principais
figuras públicas petistas (Lula e Dilma). A intenção era neutralizar o apoio
estadual contrapondo o espaço que Edmilson teria junto ao governo federal. Toda
a lógica dos apoios exibidos na TV foram direcionadas para este objetivo.
29. Em que
pese a derrota na disputa eleitoral, a campanha de Edmilson conseguiu unir
todos os setores progressistas da cidade e credenciou o partido e nosso candidato
como principal força política opositora da hegemonia tucana. Vale ressaltar que
além do governo estadual, o PSDB governará as três maiores cidades do estado
(Belém, Santarém e Ananindeua).
30. Em
Macapá, ao final do primeiro turno, nossa candidatura obteve a confiança de 28%
do eleitorado. Nosso adversário alcançou 40%. Para vencer no segundo turno
seria necessário uma engenharia política que combinasse a busca de apoios à
esquerda, mas que não colasse em nossa candidatura o desgaste do governo estadual
do PSB e, ao mesmo tempo, neutralizasse e fracionasse uma provável coalizão
conservadora em torno do atual prefeito.
31. Assim,
no segundo turno tivemos a manifestação de apoio do PCdoB e do seu candidato,
Evandro Milhomen, e recebemos apoio do candidato Davi Alcolumbre (DEM), mesmo
que isso não tenha significado o apoio de seu partido, já que a vice-prefeita e
atual presidente do Diretório Municipal do DEM, manteve-se fiel ao candidato
adversário, assim como o vereador reeleito deste partido.
32. Não
existiu apoio do PSDB. Sua direção estadual está sob intervenção. O único deputado
estadual do PSDB (JK) e o Deputado Federal, Luis Carlos, estavam no palanque e
na coordenação de campanha de Roberto Góes. A nossa candidatura recebeu o apoio
do ex-senador Papaléo e do presidente destituído do Diretório Estadual Jorge
Amanajás. Este último está se filiando ao PPS.
33. Tivemos
o apoio do vereador eleito pelo PTB Lucas Barreto, mas não tivemos manifestação
formal do seu partido em apoio a nossa coligação. Na última semana, tivemos
ainda o apoio decisivo do PSB, que assumiu a campanha com sua militância
coibiu, através do governo estadual, a compra de votos por parte do candidato
conservador.
34. Não
houve compromisso de composição no futuro governo com nenhum dos partidos ou
segmentos partidários que conseguimos atrair para a candidatura de Clécio no
segundo turno. Além disso, a direção partidária local já declarou que os
setores de partidos conservadores não terão participação na composição do futuro
governo de unidade popular.
35. Os
próprios companheiros do Amapá já admitiram que a engenharia política desenvolvida
no segundo turno, especialmente os apoios recebidos de parte dos partidos
conservadores, poderia e deveria ter sido mais bem construída internamente ao
partido, dialogando com nossas instâncias nacionais e ouvindo ponderações. A
falta destas providências gerou dúvidas sinceras em nossa militância e também
ataques desleais, alguns dos quais foram ostensivamente utilizados pelo nosso
adversário.
Não podemos
transformar nossas vitórias em derrotas
36. Diante
dessas movimentações, nosso partido vivencia mais um capítulo de sua vocação
para a luta interna. Ainda no primeiro turno alguns setores partidários se
dedicaram a atacar por notas e nas redes sociais as deliberações soberanas das instâncias
do partido sobre coligações. No segundo turno, mesmo sabendo que tais
declarações seriam (como efetivamente foram) utilizadas pelos nossos adversários,
foram lançadas cartas públicas, entrevistas e outras formas de divulgação de
posicionamentos contrários às ampliações de apoios recebidos inclusive em
espaços da mídia e parlamento burgueses.
37. O
partido, ao contrário do que talvez sonhavam alguns, não foi derrotado nas eleições
de 2012. E as decisões sobre política de alianças foram essenciais para a ida
pro segundo turno em Belém e Macapá e na vitória no segundo turno na capital
amapaense.
38. Devemos
criticar o método utilizado para que determinados apoios fossem recebidos no
segundo turno e a falta de diálogo com a direção partidária nacional para que
desconfianças sobre tais movimentações não fossem disseminadas. Mas, em nenhum
dos dois casos presenciamos posturas que ferissem os princípios éticos do
partido, ou seja, a ampliação ocorrida em Macapá ou Belém não colocou em risco
o programa partidário apresentado aos eleitores
nestas duas cidades e não incorreram em negociatas de cargos nos futuros
governos.
39. Por
isso, a direção partidária deve acompanhar o processo de constituição do governo
de unidade popular em Macapá, contribuindo para que os espaços na estrutura do
futuro governo estejam de acordo com os objetivos partidários. Além disso, deve
acompanhar nosso prefeito em Itaocara para dar total resguardo contra qualquer
tentativa de desestabilizar esse governo, colaborando ativamente para que tais
experiências sejam bem sucedidas, transformando-as em ferramentas de propaganda
do partido como alternativa de esquerda em nosso país.
40. Para além
de nossa aguerrida militância, nossos mandatos parlamentares e nossos prefeitos
serão, sem dúvidas, instrumentos da resistência popular em favor das lutas
sociais em nosso país. Com eles, o PSOL sai das eleições de 2012 credenciado
como alternativa de esquerda na sociedade brasileira, crescendo na consciência
popular como referência programática e ética, melhorando as condições para a
disputa de hegemonia em favor de um projeto democrático, popular e socialista
para o Brasil.
VIVA O PSOL!
VIVA O
SOCIALISMO! VIVA A LUTA DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS!
Brasília, 8
de novembro de 2012
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