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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O oligarquismo pós-moderno do governador

Por Edilson Silva
Nos últimos dias dois fatos levaram Pernambuco ao noticiário nacional. Ao eleger sua mãe a uma das vagas do TCU, utilizando-se de um vale-tudo voraz e sem disfarces – além da retórica -, o governador do Estado mostrou ao Brasil parte de seu real modus operandi. Deduz-se a partir daí, com facilidade, como sua mãe conseguiu ser a deputada mais votada do estado e como conseguiu chegar à liderança da bancada de seu partido na Câmara sem ao menos ter o timbre de sua voz popularizado; brilhando com sobras apenas esteticamente em fartos outdoors. New-coronelismo. Oligarquismo pós-moderno.

A outra notícia foi o anúncio da maior usina termelétrica do mundo a ser construída em Pernambuco, movida a óleo combustível. Um desinvestimento no futuro. Esta usina, a exemplo de qualquer investimento que por aqui aporte, aparece como mais perspectiva de empregos, cerca de 500 dizem os jornais. Alguém menos desatento pode perguntar: será que uns três hotéis de médio porte, explorando aquela natureza maravilhosa das praias do sul do estado, não gerariam mais empregos, sem agredir tanto o nosso meio ambiente?

Apostando sempre na retórica, na supremacia da estética e da linguagem para construir no imaginário popular um universo paralelo, uma consciência coletiva drogada, como se a realidade objetiva pudesse ser convertida em uma novela, o governador fez chegar à imprensa sua insatisfação com as críticas que setores da “mídia do sul” lhe fizeram diante do andor público e vexatório que preparou e conduziu pessoalmente para levar sua mãe ao TCU. O episódio da divulgação da locação de veículos em Brasília teria sido uma vingança. O governador critica a “velha política” que o condena.

Mas o chefe do Executivo de Pernambuco é hoje a essência reciclada da velha política em nosso país. É entusiasta e um dos padrinhos do PSD, o “novo” partido que nasce quase que literalmente dos mortos; o partido cuja ideologia é a não-ideologia, podendo assim acomodar toda fauna dispersa e faminta na floresta dos demais partidos. O governador anda abraçado com Lula e Dilma, do PT, enquanto mantém ligação estreita com Aécio Neves, do PSDB, assim como flerta sempre e crescentemente com Sergio Guerra, presidente nacional do PSDB. Faz política assim, com os pés em tantas canoas sejam possíveis.

O político que diz que condena a velha política aterra manguezais com a fúria de um tsunami; negocia com empenho a vinda de usinas nucleares para o nosso estado; anuncia com pompa a instalação da maior usina termelétrica suja do mundo em Pernambuco, ao mesmo tempo em que mantém cooptado no seu cercado um secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Sergio Xavier, do PV, sem poder nenhum, sem voz, colocando-lhe já numa situação de desmoralização pública. É a velha política pintada de um verde que já apresentas sensíveis manchas em tons de marrom e cinza.

A realidade se repete na educação de nosso estado: o governador não paga sequer o piso nacional do magistério como concebido aos nossos professores; se repete na saúde, como bem mostrou recente seminário em defesa do SUS realizado em Recife, em que a situação caótica da saúde em Pernambuco foi desnudada; se repete também na segurança, como mostram os números que insistem em cravar a realidade objetiva na novela escrita pelos roteiristas do governador.

A realidade, como ela é, pode até ser escondida por um tempo, mas não pode ser maquiada para sempre. Enquanto a “mídia do sul” abria suas páginas para o governador expor sua aparência moderna, jovial, sorridente, estava tudo bem. Agora, que esta mesma mídia se atreve a falar da essência coronelista e oligárquica do sujeito, já não serve mais. A “mídia do sul” tem seus interesses, que raramente são republicanos; fazem política de baixa intensidade e baixo nível, é verdade, mas até eles sabem que uma boa mentira precisa de algumas doses de verdade. O governador usa e abusa destes artifícios.

Presidente do PSOL/PE e membro do Movimento Ecossocialista de Pernambuco
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