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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Suape, cocaína, lixo e um governo permissivo

Por Edilson Silva

Tomo emprestado parte do título deste texto de um dos editoriais do Jornal do Commércio desta semana. Muito importante o debate e as conexões levantadas pelo editorial, que coloca a necessidade do investimento na segurança do Porto de Suape como forma de evitar que criemos em nosso estado um entreposto de destaque na rota do crime internacional.

As notícias de importação de lixo hospitalar que nestes dias ocupam a imprensa nacional, junto à apreensão de carga recorde de cocaína em Suape, e que motivaram o editorial do JC, são reflexos de um capitalismo selvagem, sem rédeas, mas também reflexo de um capitalismo em crise, em que a acirrada competição empresarial chega à casa dos centavos e onde a ética nos negócios se torna um custo que pode mesmo inviabilizar a “competitividade” em alguns setores da economia. Nesta esteira, crime por crime, drogas e armas misturam-se com outros contrabandos e atividades à margem das leis, como a “indústria” da prostituição.

Em tempos como estes, o rigor da sociedade no processo de fiscalização, a partir de um forte controle social, com tolerância zero em relação às menores irregularidades, é parte inescapável do caminho a ser perseguido para minimizar os efeitos nefastos da perigosa combinação de crescimento econômico concentrado – que traz como subproduto economias subterrâneas -, com um porto que faz fronteira com o mundo. Os exemplos do México (cuja fronteira com o mundo é feita a partir do EUA) e de Nápoles, na Itália, com sua Gomorra, não são exageros de comparação a serem considerados neste momento.

O governo do Estado está mostrando na imprensa com mais ênfase sua indignação contra a importação de lixo hospitalar e o rebatimento no pólo têxtil do agreste. Veste uma camiseta e busca somar-se assim a um sentimento de repulsa que está presente na sociedade, numa ação mais midiática do que efetivamente política. Para além disso, é preciso dizer que a atuação do governo estadual na construção de um ambiente institucional, político e ético refratário a este tipo de prática é das piores.

O governo criou em Pernambuco e está criando no mundo uma idéia de que em nosso Estado a legalidade é flexível e que em nome de empregos e renda nossa sociedade topa qualquer tipo de negócio. O governador e seus agentes viajam o mundo disseminando esta mensagem.

Aqui a legislação ambiental é soterrada junto com os manguezais; usinas nucleares, refutadas nas sociedades mais democráticas e avançadas, são negociadas para o nosso estado, mesmo com nossa Constituição proibindo-as; a maior usina suja do mundo, uma termelétrica impensável em qualquer parte civilizada do planeta, é anunciada em Pernambuco com festa; o Poder Legislativo estadual é feito de anexo do governo, com a mesa diretora sendo praticamente nomeada pelo governador; nossa juventude está sendo tragada para a prostituição na região de Suape sem que isto de torne um assunto de Estado. Os exemplos são fartos.

Em meio a todas estas ilegalidades, a sociedade civil vê-se amordaçada, desrespeitada; a noção de sujeito coletivo e de possibilidade de atuação organizada para corrigir absurdos vai se esvaziando. Um perigoso sintoma do império do individualismo pilotando a organização social.

O editorial do JC fala em melhorar as condições de fiscalização, de modernização da receita, etc. Todas são medidas que devem mesmo ser implementadas, mas nada substitui uma cultura de intolerância ao que é errado, que deve ser patrocinada no primeiro plano pelo governo do estado, pelas autoridades. Se o governo não respeita o que é certo e legal, por que os outros vão fazê-lo?

Presidente do PSOL-PE

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