Páginas

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Grito dos Excluídos endereçado a quem?

Por Edilson Silva

Participamos nesta terça-feira, 07/09, de mais uma edição do Grito dos Excluídos. Acompanhamos esta iniciativa desde seu início, ainda durante o governo FHC. Lá se vão 15 anos. O Grito nasceu como uma forma de denunciar a situação grave de parcela significativa da população, que sofre todas as formas de exclusão. As denúncias feitas no Grito dos Excluídos sempre vieram carregadas de propostas alternativas vindas de setores sociais e políticos e sempre foi comum também a identificação dos responsáveis pela situação de exclusão em que vivem estas populações.


O Brasil e Pernambuco, assim como a região metropolitana do Recife, vivem uma situação no mínimo curiosa. O Brasil é governado há oito anos por uma coalizão liderada pelo PT. O governo do estado está há praticamente 4 anos nas mãos de uma coalizão que envolve forças supostamente de esquerda. As prefeituras das principais cidades da região metropolitana estão sendo governadas há mais de duas gestões pelo PT e PC do B.


Ou seja, temos uma configuração de poder que deveria, em tese, pelo discurso e pela retórica, dialogar minimamente com as demandas apresentadas no Grito dos Excluídos. Mas não, o que vemos hoje são as mesmas demandas: juventude desamparada, desemprego, violência, caos no sistema carcerário, nada de reforma agrária, nada de reforma urbana, sem-teto aumentando dia após dia, as mesmas demandas da saúde de anos e anos atrás, as mesmas demandas na área de comunicação, de direitos humanos, as mesmas demandas ambientais.


Neste cenário, o Grito dos Excluídos é endereçado a quem? Quem são os responsáveis pelas mazelas sociais de hoje? Quem são os que patrocinam a exclusão? Quem são os que, nos vários níveis de governo, não desenvolvem políticas públicas em prol dos excluídos? Onde estão os cartazes e caricaturas de FHC de outros tempos? Quem deveria hoje, no Grito dos Excluídos, estar no lugar antes ocupando por Jarbas Vasconcelos?


Nossa candidatura estava no Grito hoje fazendo o que fazemos há 15 anos. Denunciando a exclusão, os responsáveis pela exclusão e sugerindo alternativas. Outros também estavam, como o MTST, que tinha uma faixa denunciando a traição do prefeito João da Costa. Mas, infelizmente, o que predominou foi um grito endereçado aos céus, misturado com o tremular de incontáveis bandeiras e materiais de campanha de partidos e políticos que governam o país, o estado e importantes municípios, fazendo em essência o que outrora a velha direita sempre fez.


Esperamos, e lutamos, para que o Grito dos Excluídos não seja transformado numa mera peça decorativa ou data festiva no calendário de movimentos sociais e populares, como já aconteceu com outras manifestações genuinamente de protesto, mas que foram convertidas gradativamente numa espécie de disneylândia de descontentes, abandonando sua intenção real de provocar e desafiar o poder estabelecido a atender as demandas mais sentidas do povo.


Presidente do PSOL-PE e candidato ao governo do Estado

Nenhum comentário:

Postar um comentário