Edilson Silva: Eu não quis ser político; necessitei fazer política. Publicado em 14.07.2010, do JC Online
JC ONLINE - Por que o sr. quis ser político?
EDILSON SILVA – Eu não quis ser político, eu tive necessidade de fazer política. Quando estudante secundarista, de 15 para 16 anos, precisei fazer política, fundando e presidindo grêmios, para defender os interesses dos estudantes mais pobres da escola pública, como era o meu caso. Para ter garantida à merenda escolar, por exemplo, tive que brigar contra interesses mesquinhos, tive que fazer política estudantil. Como trabalhador e sindicalista, tive que fazer política para defender os interesses de categorias e de classe. Fui sindicalista por mais de dez; tive que lutar junto com muitos outros para colocar direitos na Constituição de 1988 e depois para manter esses direitos lá, como fazemos até hoje. Para lutar contra o racismo que vitima a população negra, tive que fazer política no movimento negro. Em todas estas batalhas, do meu cotidiano de vida, sempre percebi a importância de articular a luta social, econômica, popular, ecológica, ideológica, com a disputa por espaços institucionais. Portanto, não sou um político por opção ou profissão, sou um militante e liderança de um partido político, de um projeto coletivo que busca ser a extensão, a materialização em organização política das demandas mais sentidas da maioria da população e estou candidato a serviço desta tarefa, esperando cumpri-la da forma mais digna possível.
JC ONLINE - Por que o sr. acha que merece o voto do eleitor?
EDILSON SILVA – Porque temos uma prática política coerente com o que pensamos e defendemos; porque o que defendemos está mais próximo daquilo que o conjunto da sociedade mais clama, que é conciliar da forma mais equilibrada possível democracia, liberdade, sustentabilidade ambiental e justiça na distribuição das riquezas produzidas coletivamente; porque o que defendemos é factível a partir de uma gestão pública que se ampare no Controle Social sobre o Estado, construindo na sociedade uma cultura de participação popular efetiva, que passe por conferências, referendos e plebiscitos regulares, processos que se fortaleçam gradativamente enquanto mecanismos de consulta, amadurecimento e definição dos rumos estratégicos da sociedade, rompendo com o monopólio de supostos representantes políticos viciados e já há muito sequestrados pelas elites econômicas, absolutamente corrompidos e distantes dos mínimos valores republicanos.
JC ONLINE - O que o sr. destaca na sua trajetória política?
EDILSON SILVA – Nunca escolher a acomodação, o caminho de menor resistência. Já tive a coragem de romper com o PT por conta de seu oportunismo eleitoral, mas tive coragem também de romper com setores da esquerda dogmática, exageradamente esquerdista. Em mais de 25 anos de militância política, sempre estivemos vinculados de alguma forma aos movimentos sociais e populares. Acho que o PSOL sintetiza muito dessa minha trajetória; por isso, eu me identifico tanto com o PSOL, fundei-o junto com tantos outros e sou membro de sua direção executiva nacional. A nossa trajetória tem a marca de uma esquerda democrática, libertária, republicana, socialista e popular.
JC ONLINE - Eleito, qual será sua prioridade?
EDILSON SILVA – Há uma prioridade estratégica que é mobilizar a população para participar da vida política do nosso Estado, como já colocado nas respostas anteriores. Caso contrário, o Estado continuará sequestrado por interesses de minorias, geralmente muito bem representadas no legislativo. Sair de casa de 4 em 4 anos para votar em representantes não significa necessariamente democracia, mas pode significar um ato meramente procedimental, formal, legitimador de uma situação de caos que se perpetua na medida em que se aprofunda e vice-versa. Nesse processo de participação popular, queremos e vamos pautar a relação inseparável que deve haver entre crescimento econômico e desenvolvimento social; aí então vamos colocar em outro patamar o debate sobre meio ambiente, corrupção, analfabetismo, juventude, drogas, saúde e segurança pública, IDH, reforma agrária e urbana, melhor distribuição espacial dos investimentos buscando inverter a lógica de garimpo e rapina dos governos que vem se sucedendo em Pernambuco.
O desenvolvimento dessas ações deve estar lastreado numa parceria também estratégica com os servidores públicos, principalmente com aqueles que atuam sobre a massa da população: educação, saúde e segurança.
Vamos instituir no primeiro dia de governo o piso nacional do magistério e discutir um plano real de melhoria das condições de trabalho e de vida dos profissionais de educação. Na saúde, vamos fortalecer e estabelecer o respeito às conferências - esse setor tem um histórico de elaboração de propostas de políticas públicas que não pode ser desprezado de forma alguma.
vamos incentivar a mobilização da categoria, dos médicos aos auxiliares de enfermagem, pessoal da administração, para um mutirão em defesa da saúde pública, em defesa do SUS. Acreditamos que, com transparência absoluta nas contas públicas e respeito às reais prioridades, podemos fazer uma conta de chegada que equilibre um atendimento digno à população, condições também dignas de trabalho aos servidores e capacidade de custeio por parte do Estado.
Os governos, atual e anterior, sempre atuaram em confronto com os servidores, mas nós vamos governar com os servidores. Na área de segurança, não será diferente. Um governo nosso deverá entrar na luta pela aprovação da filosofia da PEC 300, valorizando a atividade dos profissionais da segurança pública para, a partir deste patamar, iniciar um processo de reversão da lógica que vem presidindo a segurança pública, que é a defesa do estado, e não do cidadão.
Essas são linhas mestras que regerão nossas ações desde o primeiro momento. O programa de governo, que deverá estar desenhado com mais detalhamento no transcorrer da nossa campanha, incorporará as incontáveis contribuições que sempre nos chegam de colaboradores do mais alto gabarito.
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