Por Edilson Silva
Tenho muitos amigos jornalistas e relaciono-me com muitos deles, sobretudo por conta de minha militância política. Além de relacionar-me com eles, relaciono-me também com a imprensa. Estas relações nos ensinam muito. A principal lição é que os grandes veículos de comunicação, que são “a imprensa”, são empresas, com donos, acionistas, sócios, patrões, que mantém seu foco no lucro dos negócios.
Sempre fui muito cobrado sobre a questão da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Confesso que sempre apoiei a causa da exigência do diploma, mas com uma pulga atrás da orelha: esta exigência foi uma imposição do regime de exceção no Brasil. O exercício do jornalismo era livre e desregulamentado até antes do golpe de 1964. Após isto, com o objetivo de calar a rebeldia e a suposta subversão, instituiu-se a exigência do diploma. Pobre Pasquim!
Acontece que a atual dinâmica da imprensa vai resolvendo este meu dilema. É sabido que a bandeira da não exigência de diploma é patrocinada pelos grandes patrões das comunicações. Estes não vêem os jornalistas como tal, mas como “papagaios”, logo, porquê diploma? Mais que isso, um “papagaio” é encontrado aos montes em qualquer esquina, logo a lei do mercado se encarrega de transformar a profissão em “alface murcha” num fim de feira, barateando o custo variável final no processo de “produção jornalística”. Contratam uns editorialistas para dar “a linha” e o resto é resto. Capitalismo básico.
Lamentavelmente, em regra, a relação capital x trabalho na grande imprensa tem desconfigurado o papel da imprensa e do jornalismo. O bom jornalismo e os bons jornalistas vão localizando-se nas bordas da comunicação e felizmente a blogosfera e redes sociais ajudam muito nisto. O simples fato da possibilidade de contratação de “jornalistas” sem diploma no mercado pelas grandes empresas de comunicação já cria um ambiente de terror que obviamente não incide somente nos salários e nas condições de trabalho, mas também na qualidade da notícia.
Não tem jeito: a existência determina a consciência. Tenho sido um crítico ácido desta situação. Este jornalismo e estes jornalistas, como estão caminhando, não servem à comunicação cidadã, à informação verdadeira como uma das dimensões inescapáveis do direito humano fundamental à comunicação. Esta imprensa, como se encontra, é o outro lado da moeda da velha política tão criticada nas ruas e praças de nosso país. E o pior: pousando de consciência crítica da sociedade.
É por isso que folguei ao saber da aprovação em primeiro turno no Senado da PEC 33/2009, que obriga a diplomação para jornalistas. Não há democracia em evolução sem comunicação libertária, e esta não existe se os que produzem a informação não estiverem minimamente protegidos contra os interesses do grande capital. O diploma de jornalista, por óbvio, não resolve todos os problemas, mas estanca minimamente uma hemorragia por onde está esvaindo-se não só os interesses corporativos de uma categoria, mas a nossa democracia em construção.
Presidente do PSOL-PE
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