Por Edilson Silva
Agradeço à Prefeitura do Recife por dignar-se a responder aos nossos questionamentos feitos ao secretário municipal Amir Schwartz aqui neste espaço. Entendemos a resposta como um sinal de respeito e uma postura republicana até. Contudo, não podemos de forma alguma concordar com o conteúdo das respostas dadas e muito menos com a postura intimidatória de “informar” que o secretário interpelará judicialmente este articulista. Por isto, a necessidade desta respeitosa tréplica.
Lamento muito que a prefeitura tenha iniciado sua resposta com um juízo moral, (des)qualificando o Bar Garagem. Em nenhum momento estivemos aqui defendendo a reabertura deste estabelecimento. A prefeitura tenta com isso fazer uma manipulação barata e rasteira, que mostra bem como a degeneração da cúpula do PT que está à frente da administração municipal é profunda.
Se vendiam bebidas a menores, há leis para isto. Se vendiam drogas, há leis para isto. Se desrespeitavam os limites de decibéis, há leis para isto. Se não tinham alvará de funcionamento, há leis para isto. O curioso é que o dono do estabelecimento não tem um único processo contra qualquer dessas supostas irregularidades elencadas pela prefeitura. E não me consta que em qualquer destes casos a lei mande demolir o estabelecimento. A prefeitura já ouviu falar em interdição? Quando um posto de gasolina é pego adulterando combustível, por exemplo, o poder público manda demoli-lo? Creio que não. É disto que estamos tratando também aqui. Direitos fundamentais desrespeitados!
Em sua resposta a prefeitura me solicita informações também. Terei prazer e satisfação em fornecer. Onde estão prédios que invadem matas ciliares no Recife? Onde estão prédios que não respeitam a lei dos 12 bairros, que limita a 60 metros a altura dos edifícios? Onde estão os prédios que estão sendo construídos no traçado da Avenida Beira-Rio?
Agradeço muito à Prefeitura pela oportunidade que me dá de responder a estas três perguntas com uma só resposta: Edifício Jardim Beira-Rio, ao lado do Hospital Evangélico. O referido edifício está em construção, já está com 39 andares, ou seja, já passa em muito dos 60 metros, e está praticamente dentro do Rio Capibaribe. Pelo nome do edifício, Beira-Rio, o mesmo da Avenida tão polêmica, Beira-Rio, pode-se pensar que o secretário e sua secretária estejam realmente confundindo as coisas.
Mas este mesmo edifício, o Jardim Beira-Rio, nos dá a oportunidade de tratar de outras questões: quem foi o responsável pela liberação desta obra? Outro “detalhe”: a empresa que está construindo este edifício é a mesma que plantou duas torres gêmeas no cais de Santa Rita, as duas fora dos padrões legais e enfiadas em cursos d’água praticamente. Vou dar duas letras como dica para não ter que dizer aqui o nome da construtora: m e d.
Para não me tratarem como besta, e nem os recifenses, não venham com a conversinha malandra de que a aprovação dos projetos é anterior a 2001, quando a Lei dos 12 bairros foi aprovada. Por favor! Respeitem a inteligência dos recifenses.
Os jornais de Pernambuco estão fartos de contradições da prefeitura em relação a esta Avenida Beira-Rio. De tempos em tempos o suposto traçado muda ao sabor dos interesses que com certeza não são os da população. No traçado entre as pontes da Capunga e Torre tem um edifício, Avis Liberta, construído também pela tal empresa de duas letras, m e d, e o secretário já havia dito pela imprensa que teria que fazer um contorno de 300 metros por conta desta edificação (Jornal do Commercio – Cidades – 14/11/2009).
Depois de várias versões, agora a prefeitura vai à imprensa dizer que a tal Avenida vai ser construída no lado oeste do rio (Jornal do Commercio – Cidades – 24/08/2011). Mas, pasmem, o novo traçado tem pela frente, de novo, um edifício em construção. De novo, da empresa de duas letras: Edifício Jardim Beira Rio. Curiosamente, na mesma matéria jornalística a prefeitura diz que terá que fazer um contorno para não desapropriar o Hospital Evangélico. Detalhe: este hospital é vizinho ao Edifício Jardim Beira Rio. Alguém pode acreditar no espírito cristão da prefeitura neste caso?
A impressão que temos nesta estória toda é que o traçado das avenidas, o “planejamento” da cidade, é feito ao sabor dos interesses do mercado imobiliário. Desse jeito a tal Avenida Beira-Rio não será digna do nome. Talvez Avenida Zigue-Zague fosse o mais adequado. Temos que resistir a isto!
Para continuar com nosso processo de controle social popular e republicano sobre a gestão pública, faço aqui mais duas perguntas ao senhor secretário Amir Schvartz:
1 – Naquele sábado em que o senhor – apressado em não deixar a área ociosa, segundo a resposta da Prefeitura -, estava “fiscalizando” a limpeza do terreno do Bar Garagem, havia em sua companhia algum empresário diretamente interessado naquele terreno?
2 – Se o senhor, secretário, estava com tanta pressa para ocupar aquela área com qualquer coisa, por que hoje, dois anos depois, apenas o terreno do Bar Garagem está cercado e limpo – pois é área privada – e o restante da área que o senhor tinha tanto interesse e zelo está se transformando num verdadeiro lixão?
O povo do Recife merece respostas a estas perguntas e às outras feitas anteriormente. Os cidadãos e cidadãs não querem respostas do cidadão Amir Schvartz, cuja vida privada é respeitada por nós e blindada pela nossa Constituição Federal. As perguntas são feitas ao homem público.
Presidente do PSOL-PE
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Edilson, eu sou arquiteta e tenho certo conhecimento das leis urbanísticas e de uso e ocupação do solo do Recife e realmente nunca entendi como projetos como essas torres gêmeas conseguiram ser aprovados. Como também fico sempre encucada quando vejo o antigo Garagem vazio, derrubaram com tanta pressa e deixaram o nada... Não dá pra entender mesmo como as coisas funcionam nessa cidade!
ResponderExcluirMarília