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terça-feira, 12 de abril de 2011

1º de Maio - Dia do Trabalhador na Festa da Lavadeira

I - Rápida exposição de motivos

Sobre o 1° de maio

O 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, é uma data extremamente cara na história da resistência popular contra o poder econômico. Relembra a luta dos trabalhadores norte-americanos que em Chicago, no ano de 1888, reivindicavam a redução da jornada diária laboral e melhores condições de trabalho. O desfecho dos protestos, com vários mortos, desencadearam uma onde de greves nos EUA. De lá para cá, este dia passou a ganhar dimensão internacional, sendo referência em todos os continentes e lembrado como um dia de reflexão maior acerca dos direitos dos cidadãos enquanto sujeitos que vivem do seu trabalho.

Por razões que não cabem ser expressas nesta rápida exposição, o 1º de Maio vem perdendo suas características originárias no Brasil e em Pernambuco. De momento de mínima reflexão sobre as condições de vida dos que vivem do seu trabalho, o 1º de maio transformou-se basicamente em dia de feriado e distribuição de prêmios e de grandes shows nos principais centros do país. Onde os grandes shows não acontecem, alguns setores desenvolvem atividades meramente formais em dias anteriores ao 1º de maio, como acontece em Pernambuco até aqui. Não há em nosso estado, portanto, um espaço devidamente construído que tente abrigar, simultaneamente, com o máximo de unidade, significativos segmentos para refletir a problemática dos direitos dos trabalhadores, sob o signo histórico do que representa a data do 1º de maio.

Sobre a Festa da Lavadeira

A Festa da Lavadeira é uma festa popular, que acontece na praia do Paiva há 24 anos. A festa visa dar espaço, confraternizar e fortalecer expressões culturais, artísticas e religiosas de matriz afro-brasileira e regional, como Afoxés, Maracatus, Cirandas, Côcos de Roda, Cavalo Marinho e muitos outros. A festa, ao longo do tempo, ganhou fortes contornos de resistência popular em defesa das matrizes culturais destas expressões artísticas contra a mercantilização da arte e da cultura popular, patrocinadas pelo poder econômico. A Festa da Lavadeira acontece, sempre, no feriado do Dia do Trabalhador, 1º de maio, e já chegou a reunir em algumas edições 80 mil pessoas.

A Festa da Lavadeira, porém, se realiza na Praia do Paiva, local onde está sendo construído um condomínio fechado para uma alta elite, num empreendimento milionário que envolve a construtora Odebretch. Como parte desta estratégia de privatizar a área, o governo do Estado construiu uma ponte ligando a comunidade de Barra de Jangada, em Jaboatão, ao Paiva, com a construção de uma rodovia compatível com a exigência dos milionários que pretendem morar no paraíso particular. Ato contínuo, colocou praças de pedágio para segregar o acesso. Ao mesmo tempo, a prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, município onde se localiza a praia do Paiva, vem buscando dar forma legal à privatização da área, e já fez aprovar na Câmara de Vereadores projeto que transforma o Paiva em Zona Especial Hoteleira da Reserva do Paiva, ou seja, um condomínio fechado, com regras internas definidas pelos “condôminos”.

Desde que se iniciou este processo, a coordenação da Festa da Lavadeira vem sofrendo pressões por parte da empresa Odebrecht para acabar com a Festa. Enfrentamentos e métodos pesados são utilizados pelos empresários da multinacional, como colocar cacos de vidros na área do tradicional “banho de lama” que sempre acontece no meio da festa. O caso, que se arrasta há vários anos, conta com o apoio de inúmeras organizações que defendem os direitos humanos, está com intermediação do Ministério Público, mas a festa vem se mantendo mesmo pela força de sua própria existência no imaginário popular, que leva, todos anos, dezenas de milhares de pessoas para aquela festa.

II - 1° de Maio e Festa da Lavadeira: unir para preservar!

A Festa da Lavadeira hoje se configura como espaço de resistência e luta popular. E não se trata apenas de resistência no campo da arte e da cultura. Trata-se, por força das circunstâncias, de resistência popular contra a privatização das rodovias estaduais; contra a perigosa, elitista e preconceituosa concepção de privatização de espaços públicos e de lazer popular; contra o poder econômico de uma multinacional que acha que com sua força política pode tudo.

O 1° de Maio, por sua vez, precisa buscar sobreviver enquanto momento de reflexão sobre as demandas contemporâneas de todos aqueles que vivem exclusivamente do seu trabalho, em todo o universo do mundo do trabalho. Precisa perceber que as demandas da classe trabalhadora do século XXI tornaram-se mais complexas, difusas, e que temas como direitos humanos em todas as suas dimensões, como habitação, transporte, segurança, lazer, comunicação, educação, saúde, previdência, diversidade sexual, gênero, etnia, ecologia, direitos das crianças, adolescentes e jovens, dos idosos, dentre outros, podem estar até dispersos na sociedade, mas concentram-se implacavelmente sobre os cidadãos e cidadãs que vivem do seu trabalho e que precisam de organização social para terem acesso a todos esses itens como direito social e não como mercadoria.

O 1° de Maio na Festa da Lavadeira, se for organizado para tal, pode ter um caráter ao mesmo tempo classista, de celebração, de lazer e de resistência. E este é o objetivo de nós que estamos investindo nesta idéia. Pretendemos criar no espaço da festa uma tenda onde estarão numa grande roda de diálogo representações de várias demandas da sociedade e dos trabalhadores: Fórum de Comunicação, de Crianças e Adolescentes, de Reforma Urbana, de Reforma Agrária, de Mulheres, LGBT, Direitos Humanos, Movimento Negro, Ambientalistas, Entidades Sindicais. Pretendemos com isso debater e socializar experiências, colocar os temas numa perspectiva unitária e, principalmente, organizar a resistência em defesa da Festa da Lavadeira, expandindo assim a luta contra o poder econômico e político da multinacional Odebrecht.

Esperamos assim que o dia 2 de maio amanheça com o prefeito da cidade do Cabo, com os Executivos da Odebrecht e o próprio governo do Estado, com a sensação de que levaram um revés e de que a força da organização popular pode muito mais que o poder econômico. Esperamos, também, que o 1° de Maio em Pernambuco retome seu caráter histórico, contestatório, vinculado às demandas reais da população e que mobilizem a sociedade.

Comitê de Organização do 1° de Maio na Festa da Lavadeira
Contatos: 8742 2790 / 9835 1257 / 8635 1788

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