Por Edilson Silva
“Não sou culpado por todos os problemas que tanto incomodam a cidade”. Foi este o tom da aparição do prefeito do Recife, João da Costa, esta semana na imprensa pernambucana. O tom, se na forma tenta esboçar uma espécie de reação, no conteúdo mostra um prefeito perdido, absolutamente na defensiva, admitindo que a cidade está ruim aos olhos da população e que as responsabilidades devem ser socializadas. Ou seja, as coisas boas são da sua lavra, mas a desgraceira é um patrimônio de todos.
A fala do prefeito, observada transversalmente com a conjuntura política que o cerca, na realidade é um misto de desespero e de desânimo, de quem olha para trás e vê que não fez o que devia quando ainda tinha tempo, e olha para frente e vê que não há mais tempo para fazer o que deve ser feito.
Este cenário combina-se dialeticamente, ou oportunistamente, com o abandono gradual da gestão por parte de aliados. As feridas abertas mais visíveis são o PTB e o ex-prefeito João Paulo, mas a chuva de alfinetes sobre o prefeito parte de todos os quadrantes “aliados”. E como na política um pouco de sorte também conta, o prefeito tem o azar de ver a sua sucessão como parte da sucessão do governador Eduardo Campos, fator que exerce uma força centrífuga no núcleo da aliança que o sustenta.
Cada chuva que cai sobre o Recife é um flash para as manchetes contra o gestor. Alagamentos, engarrafamentos, semáforos que não funcionam, os problemas com o lixo, agora com a merenda. Os buracos nas ruas e avenidas que vão se transformando na marca de sua gestão. João da Costa já caiu no desgosto do povo, e ele sabe disso. Não pode andar pelas ruas, nos eventos públicos, sem um mínimo de planejamento, pois as vaias são sempre uma ameaça, como a que ele recebeu em pleno Baile Municipal. Nos festejos juninos, por sorte ou azar, teve um problema ortopédico que o impediu de sair às ruas. Livrou-se do calvário!
Além disso, quem anda pelos cantos e recantos da cidade também sabe que João da Costa pegou uma inhaca que grudou nele mais do que noda de caju: a de ingrato. E ingratidão, para o povo, cheira a traição. A vítima da traição, na boca do povo, é o ex-prefeito João Paulo que, todos sabem, é muito bem quisto na cidade.
É neste cenário que o prefeito João da Costa está enfiado e é por isso que ele, no desespero, tenta culpar a Compesa por um buraquinho ali, São Pedro por uma chuvinha mais grossa acolá, culpar as leis da física pelas descargas elétricas que interferem nos semáforos, etc. E no meio disso tudo precisa fazer seu teatro, de que dá pra virar o jogo, contando com uma performance espetacular de algum marqueteiro, só pode ser.
Sugiro ao prefeito que aproveite a Festa de Nossa Senhora do Carmo nestes dias – não pode temer as vaias, tem que enfrentar! -, encare o povo, faça uma promessa daquelas bem fortes, e torça para que Ela lhe atenda, porque marqueteiro pode até ajudar, mas não faz milagre.
Presidente do PSOL-PE
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