Por Edilson Silva
A discórdia pública entre o ex-prefeito do Recife, João Paulo, e o atual, João da Costa, trouxe à tona uma discussão que ultrapassa em muito o universo das relações meramente pessoais entre ambos. Quando o atual prefeito diz que recebeu a prefeitura praticamente quebrada do antecessor, joga uma rocha de tamanho considerável no telhado de vidro da coalizão que o elegeu.
O atual prefeito foi eleito em primeiro turno. Ganhou bem embalado no andor do ex-prefeito, de quem herdou votos, sobretudo, em função de um discurso afinado de continuidade. João era João. Passados dois anos, João da Costa diz agora que recebeu uma herança maldita. Segundo disse à imprensa, recebeu restos a pagar da ordem de R$ 110 milhões. No caixa, apenas R$ 10 milhões.
Se o discurso de João da Costa hoje é verdadeiro, há aqui problemas de ordem ética e política, por um lado, e de ordem judicial – quem sabe até criminal-, por outro.
Os problemas de ordem ética e política estão ligados ao fato de que o discurso de uma boa administração e de continuidade da gestão, durante as eleições, teria sido uma fraude. Obras como o Parque Dona Lindu, reforma no passeio da orla de Boa Viagem e o túnel do Pina, por exemplo, iniciativas que juntas somam cifras aproximadas a R$ 100 milhões, teriam sido uma aventura irresponsável numa cidade que hoje carece da conclusão da duplicação do viaduto Capitão Temudo, só para ficar em um único exemplo.
Se o discurso de João da Costa hoje é verdadeiro, a frente que o elegeu e seus respectivos partidos foi lastreada numa grande farsa. Mais ainda, se o discurso é verdadeiro, João da Costa e o conjunto da administração que ele sucedeu e a atual, que ele comanda, devem explicações à justiça, e aqui temos a outra natureza do problema.
João Paulo, o ex-prefeito, apresenta documentos oficiais que afirmam que a situação financeira da prefeitura quando ele a entregou ao sucessor era bem outra. Se João Paulo está mentindo, ele contou com a conivência de órgãos de fiscalização e controle, como o Tribunal de Contas, o que seria mais do que grave.
Se João Paulo está mentindo agora, teve João da Costa como seu conivente até aqui, pois este último, além de ter feito parte do chamado núcleo duro da antiga gestão, assinou os relatórios contábeis da gestão de 2008, já como prefeito, no início de 2009.
Mas, pode ser que João Paulo esteja falando a verdade e João da Costa o inverso. Neste caso, o prefeito atual estaria fazendo jus às críticas que lhe foram feitas na campanha de 2008, de que seria um incapaz de governar a cidade, e também aos índices de avaliação que hoje ostenta sua administração. Seria a mediocridade em forma de prefeito.
Um mínimo de respeito à cidade e à democracia exige do prefeito João da Costa os devidos esclarecimentos diante do quadro que se apresenta. Afinal de contas, ele não administra na PCR o seu orçamento doméstico.
PS: Edilson Silva é presidente do PSOL - PE
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