Por Edilson Silva
Esta semana uma novela que se arrasta há anos teve mais um capítulo em Recife. Estudantes e movimentos variados nas ruas protestando contra o aumento das passagens em 8,66%. A tarifa mais usada pela população passou para R$ 2,00.
A malandragem dos operadores do sistema de transporte coletivo, aplicando os reajustes no período de férias estudantis, em janeiro, tinha prazo de validade para expirar.
O PSOL, através de seus militantes, sobretudo jovens estudantes, participa dos protestos. E participamos não apenas contra este aumento especificamente, que é o estopim de uma situação mais grave e exige algum nível de reação, por menor que seja. Trata-se, para nós, de um grito de protesto contra uma situação estruturalmente vergonhosa para a nossa sociedade.
O setor de transporte coletivo na região metropolitana parece estar acima da lei. Pressionaram pela retirada do transporte alternativo, os kombeiros, com a promessa de melhorar a qualidade do transporte e o que vemos foi a piora sensível no sistema. Não há licitação pública no setor, quando uma concessão desta natureza exige observação criteriosa sobre isto. Recentemente, as empresas de ônibus que operam em Recife tiveram redução de 60% no ISS, onerando os cofres municipais em cerca de R$ 500 mil por mês, segundo o Ministério Público. As planilhas para formação da tarifa são uma caixa preta, não há auditoria independente e confiável.
Neste quadro é impensável, por exemplo, o fortalecimento real do modal de transporte sobre trilhos na região metropolitana, quando aspectos legais básicos são pisoteados pelo cartel em que se transformou a operação do transporte coletivo.
Assim, o funcionamento do sistema de transporte público de passageiros na região metropolitana torna-se um ônus contra a economia popular, um desrespeito ao direito humano ao transporte, e fator que contribui no caos em que vem se transformando nosso trânsito, pois o crescimento da frota de veículos particulares tem ligação direta com a falta de qualidade e eficiência do transporte público.
Setores da imprensa, com raríssimas e honrosas exceções, vem tratando de forma inadequada a manifestação democrática daqueles que protestam contra este estado lamentável de coisas. Não enxergam, ou têm interesse em não enxergar, que os estudantes pobres, os trabalhadores, os desempregados – que existem e não podem ser desconsiderados na sociedade -, neste debate não têm um mínimo de representação nas casas legislativas, por exemplo. Não lhes resta outro caminho que não ocupar as ruas e tentar, conforme garante a nossa Constituição Federal, alguma interlocução, alguma sensibilização.
É nesta perspectiva que o PSOL apóia as mobilizações e se coloca como parte da sociedade na busca por um transporte coletivo acessível e de qualidade para a nossa população.
Edilson Silva é presidente do PSOL-PE
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