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sexta-feira, 2 de março de 2012

A Direita envergonhada

Por Edilson Silva


Há poucos dias participei de um debate numa rádio do Recife, das mais ouvidas. O tema: Esquerda e Direita na política brasileira. Fui lá defender o que conceituo como Esquerda. O deputado federal Mendonça Filho, do DEM, foi convidado para defender, pensei, as posições da Direita.

Fiquei surpreso ao ouvir do deputado do DEM que em 1964 o então presidente João Goulart foi vítima de um golpe e não de uma revolução, como sempre defenderam os golpistas. Fiquei ainda mais surpreso quando ouvi o deputado afirmar orgulhoso que o ex-presidente de seu partido, Rodrigo Maia, nasceu no exílio, no Chile, por conta exatamente deste golpe. Quando fez a defesa do Código Florestal e da posição (muito boa por sinal) do ex-ministro Gustavo Krause, a respeito das alterações deste código hoje no Congresso, juro que quase me emocionei. Mas quando ele teve a coragem de dizer ao vivo que defendia a redução da jornada de trabalho sem redução salarial dos trabalhadores, por pouco não puxei uma ficha do PSOL para filiá-lo.  

O nobre deputado esforçava-se para demonstrar que o ideário que sustenta ideologicamente sua história política e sua agremiação partidária não existe mais. Para ele, agora tudo é de centro. Esqueceu-se de olhar para si e perceber que ele mesmo é membro de uma oligarquia política, hereditária, um resquício político que remonta às prévias da Revolução Francesa, no século XVIII, quando o conceito de Esquerda e Direita foi inaugurado.

Esqueceu-se de dizer que o atual presidente de seu partido é José Agripino Maia, político que estava se locupletando do golpe de Estado de 1964, o mesmo que expulsou o pai de Rodrigo Maia, o ex-prefeito Cesar Maia, para o Chile. Não “lembrou” que a base parlamentar do DEM, seu partido, é quem sustenta da forma mais apaixonada no Congresso Nacional os interesses medievais do latifúndio e do agronegócio.

Sai do debate com um aprendizado a mais sobre as diferenças entre Esquerda e Direita. A Esquerda em regra tem orgulho do seu passado e dos seus ícones; não se envergonha de Dom Helder, Gregório Bezerra, Florestan Fernandes e tantos outros; não tem medo de romper politicamente e formalmente com os que traem o ideário da Esquerda – não são poucos -, nem que para isto pague o preço do recomeço, da escassez de meios para realizar as políticas que defende. A Direita, pelo contrário, tem o dom de camuflar sua essência diante do povo, de dissimular, pois tem, em regra, vergonha das suas idéias e de seu passado. 

Presidente do PSOL-PE         

Um comentário:

  1. Alguém já diz que no Brasil, além de alguns "doidos" ninguém na política brasileira se assume como de direita. No máximo centro ou centro-esquerda como faz o Serra.Esse "democrata" não é excessão a regra.

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