
Dia desses o ex-presidente estadual do PT, Dilson Peixoto, figura de proa deste partido, disse em entrevista a uma rádio local que o PSOL não era um partido de esquerda, mas tão somente de oposição. Sustentou o delírio afirmando que o PSOL sempre se somava à direita em votações nos parlamentos. O delírio se mostrou profundo quando afirmou também que o PT é um partido genuinamente de esquerda. Talvez fosse mais adequado chamá-lo de “genoinamente” de esquerda.
As
direções do PT e seus satélites partidários que se intitulam de esquerda fazem
uma propaganda sistemática sobre uma suposta não natureza de esquerda do PSOL.
Os pseudocritérios utilizados pelos dirigentes petistas são de ordem meramente
retórica, um claro charlatanismo. Dividem o mundo da política em dois lados: os
que estão com eles – estejam onde estiver, nem que seja no banco dos réus do
Mensalão - são de esquerda; e os que estão do outro lado são de direita.
Misturam
malandramente – por ignorância ou apostando na ignorância alheia – o que é ser
de esquerda, anticapitalista, classista ou de oposição. Ora, um partido pode ser
de oposição a um governo e ao mesmo tempo ser embasado socialmente numa classe
empresarial ou na classe trabalhadora; defender economicamente o liberalismo ou
defender teses anticapitalistas. A condição de oposição ou situação, pura e
simplesmente, não define critérios de classe, tão pouco de esquerda ou direita.
A Esquerda
– que é um conceito meio fluido no senso comum - é uma categoria essencialmente
política e não necessariamente social. A burguesia era de esquerda e
revolucionária nas lutas que culminaram com a Revolução Francesa. O conceito de
esquerda e direita vem de lá, inclusive. Nos primeiros parlamentos que minavam
o poder da monarquia francesa, os que queriam mudar a sociedade, fazê-la
avançar contra os privilégios da nobreza e do clero, sentavam-se à esquerda do
Rei. Os que queriam conservar a sociedade com os privilégios para poucos,
sentavam-se à direita do Rei. Os de esquerda eram os progressistas e
revolucionários, contestadores do poder e do regime. Os de direita, os
conservadores e reacionários.
O
PT no poder perdeu grandes chances de se posicionar a esquerda do “Rei”. Onde
está o PT na luta contra a imoral e ilegal dívida pública que enriquece ainda
mais os banqueiros em detrimento das demandas mais caras do povo, como saúde e
educação? À direita. Onde está o PT no poder no combate à máfia das empreiteiras
que sangram o orçamento público e do BNDES? À direita. Onde está no combate ao
latifúndio e em favor da reforma agrária que dê dignidade às populações
campesinas? À direita. Onde está na democratização das comunicações? À direita.
Mas
o PT no poder tem uma pauta ideológica de esquerda! E pra que serve ideologia
se não se confirma em programa e políticas públicas efetivas? Cria espaços de
promoção da cidadania LGBT, das mulheres, dos negros, dos direitos humanos, mas
faz acordo com o Vaticano para ensinar seus dogmas no serviço público de
educação e dá a comissão de Direitos Humanos da Câmara para os fundamentalistas
neopentecostais, enquanto os espaços de promoção de cidadania das populações
historicamente oprimidas não tem orçamento para trabalhar e servem mais para
promover pessoalmente lideranças facilmente cooptadas. À direita, de novo.
O
PSOL e seus parlamentares então não podem votar a favor de um salário mínimo maior
que aquele encaminhado pelo governo do PT, só porque o DEM e o PSDB –
oportunistamente – apresentaram uma proposta de salário mínimo maior? Neste
caso, não é o PSOL que está à direita, mas o PT no poder que está mais à
direita que a direita clássica e assumida. Chega a ser constrangedor.
Na
semana passada, outro episódio marcou esta sina do PT de se achar o “Marco Zero”
da esquerda. Estudantes e populares que compõe a Frente de Luta pelo Transporte
Público acompanhavam uma audiência pública na Câmara de Vereadores do Recife,
convocada por um vereador “de direita”. Em meio à audiência, por conta da
truculência da polícia que estava do lado de fora reprimindo outros jovens,
decidiram ocupar a Câmara. Exigiam a abertura de uma CPI e a aprovação do Passe
Livre, além da soltura dos presos.
A
CPI precisava de 13 assinaturas para ser instalada. Os quatro vereadores da
oposição – de direita - prontificaram-se a assinar. Dos 5 vereadores do PT, Jurandir
Liberal, Luís Eustáquio, Jairo Brito, Henrique Leite e Osmar Ricardo, apenas
este último se dignou a ficar na Câmara com os ocupantes e disse que assinaria
o requerimento da CPI. Os demais desapareceram. O PSOL estava lá, inteiro, com
seus militantes e este que vos escreve, resistindo com a juventude. Onde estava
o PT, tão de esquerda?
O
PT ainda tem tempo de assinar o requerimento e mostrar que não teme desagradar
as empresas de transporte coletivo que se favorecem da concessão do transporte
público em nossa cidade. Ainda tem tempo de mostrar que, ao menos no âmbito municipal,
não está tão à direita, pois o que separa esquerda de direita são critérios
programáticos e práticos e não meramente ideológicos e retóricos.
Presidente do PSOL-PE