Fiquei
impressionado, mas não tão surpreso, com a repercussão da aprovação da nova
legislação que disciplina o trabalho doméstico no Brasil. Uma classe média (é
média mesmo?) apavorada demorou a sentir a ficha cair. Tínhamos no Brasil uma
situação absolutamente descabida, duas categorias de trabalhadores. Com a
isonomia alcançada pelos trabalhadores domésticos, em português claro,
domésticas, faxineiras e babás, esta situação começa a ser resolvida.
A
gritaria é porque as famílias não terão como se adaptar. Pois bem, até aqui
quem teve que se adaptar foram as domésticas. “Ah, mas eu chego tarde em casa e
meu filho vai ficar com quem?”. Sim, e o filho da doméstica, fica com quem?
Cansei de ver sindicalistas lutarem muito por direitos de suas categorias, mas
mantinham em suas casas trabalhadoras, não raro negras, em situação de extrema
precariedade.
A
nova legislação das domésticas trará, oxalá, uma nova percepção para a
sociedade brasileira, para os milhões de trabalhadores que exploram em suas
casas outros trabalhadores, a necessidade de se tratar de creches públicas, de
lavanderias públicas e outros serviços antes obtidos da pior forma. O deleite
liberal de “comprar” estes serviços num mercado praticamente informal sofreu
num duro golpe.
A
realidade que muitas famílias sofrerão a partir de agora é o drama diário de
milhões de mães brasileiras, pobres, que tem que deixar seus filhos menores com
os filhos maiores em casa, para poder trabalhar, fazer faxina. A luta destas
mães pobres, por creches decentes para seus filhos, será também agora a luta
das mães de classe média ou menos pobres. A emancipação plena da mulher não
pode admitir que a emancipação de uma se dê pisoteando os direitos de outra.
A
aprovação da PEC das domésticas foi uma segunda abolição da escravatura no
Brasil.
Presidente
do PSOL PE
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