Por Clóvis Cavalcanti
Economista ecológico e
pesquisador social; clovis.cavalcanti@yahoo.com.br
Recentemente,
foi lançado em Pernambuco, o Fórum Permanente de Discussões sobre o Complexo de
Suape. À sua frente, a militante do movimento feminino do Cabo Nivete Azevedo e
o professor da UFPE Heitor Scalambrini. Trata-se de iniciativa que ajuda a
preencher o vazio na iniciativa do governo estadual, que já tem 4 décadas, de
discussão com as partes interessadas (stakeholders) acerca da obra.
Sobre isso, em abril de 1975, liderei um grupo de cientistas pernambucanos –
Vasconcelos Sobrinho, Nelson Chaves, José Antonio Gonsalves de Mello, Renato
Carneiro Campos (tio do governador Eduardo Campos), Renato Duarte e Roberto
Martins – que contestava o projeto e pedia que ele fosse discutido. Expusemos
isso em documento publicado num dia por semanário da época, o Jornal da
Cidade e, no dia seguinte, pelos demais jornais recifenses. Nunca a
sugestão foi ouvida. O resultado é visível.
Como diz,
com razão, documento do novo fórum, a intervenção estatal em Suape “tem sido
caracterizada pela violência na retirada das famílias moradoras sem que
indenizações justas sejam pagas, e nem novas moradias disponibilizadas, levando
estes moradores a se tornarem sem teto, e famílias a viverem precariamente nas
cidades localizadas em torno do Complexo”. Essa é uma situação cuja dimensão de
calamidade só se percebe conversando com pessoas que passam pelo calvário em
que se transformou para elas a truculência do Estado em face de cidadãos
ordeiros. Mais incrível é a facilidade com que se martiriza gente humilde,
esmagando-a com artifícios jurídicos para que abandone suas casas, seus meios
de vida, sua história, seu pertencimento a um território muitas vezes
ancestral. É incisivo sobre o tema, o documento do Fórum Permanente de Suape:
“Sem dúvida, para a manutenção de padrões sociais dominantes desde o período
colonial, os poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário) fecham
os olhos para a violação dos direitos destas populações invisíveis à
sociedade”.
A mesma
realidade foi constatada pela ONG Both ENDS, incumbida pelo governo dos Países
Baixos, de onde procede, de averiguar a (ir)responsabilidade social de uma
empresa holandesa, a Van Oord, que faz dragagem no porto desde 1995 e que
recebe apoio do governo holandês para isso. Fui procurado pelo experiente
antropólogo ambiental da Both ENDS Wiert Wiertsema em agosto de 2012 para falar
sobre Suape. Disse-lhe que fosse ver com seus olhos o que estava acontecendo;
que conversasse com gente de lá. Ele ficou alarmado com a situação (ver http://www.bothends.org/uploaded_files/document/130222_Report_Suape.pdf).
Falou com pessoas demolidas na sua integridade, como o agricultor Luís Abílio,
de Tiriri, um estóico trabalhador de 87 anos, expulso de casa por integrantes
da aterradora Tropa de Choque. Infelizmente, essa dureza insana é jogada contra
pessoas desprotegidas. Ao mesmo tempo, a elite se diverte construindo, como em
Apipucos, um edifício na beira do Capibaribe, contra todo bom senso e a
necessidade de proteção às margens de rios. É uma desigualdade infinita.
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