Por CLAUDIA ANTUNES, na Folha de São Paulo de 29/12
Os EUA e boa parte dos países da União Europeia são democracias consolidadas, com razoável independência judiciária, liberdade de expressão e eleições regulares (embora a burocracia não eleita europeia tenha poder demais e o sistema de votação americano seja pouco transparente e sujeito a abuso econômico).
A China é uma ditadura de partido único, que ameaça e encarcera críticos do monopólio do PC e controla todos os meios de comunicação (embora os debates nas redes sociais chinesas sejam mais virulentos do que se esperaria nessas circunstâncias).
Nos EUA e na Europa, milhares foram às ruas contra o arrocho econômico, pedindo que os bancos e os mais ricos arcassem com o ônus da crise, ou ao menos que seus custos fossem mais bem repartidos. Não conseguiram nada. A população esperneia e até troca o governo, mas o campo de ação da política encolheu.
Na China, a população assumiu o comando da pequena Wukan, na Província de Cantão, e expulsou as autoridades, acusadas de enriquecer com o dinheiro de terras comuns desapropriadas. A notícia se propagou e Pequim cedeu aos rebelados, assim como tinha feito em agosto, quando fechou uma petroquímica poluidora que era alvo de manifestantes na metrópole de Dalian.
No Ocidente desenvolvido, a gestão da economia impõe limites à vontade popular. Na China emergente, o regime teme que a contestação se espalhe e tenta preservar o controle cedendo a reivindicações localizadas.
São frequentes deste lado do mundo as advertências sobre uma suposta atração exercida pelo modelo chinês, de capitalismo de Estado com autoritarismo. É um alarme exagerado, quando se vê que os próprios chineses não se contentam com ele e reclamam voz e direitos.
Em vez de forjar um "perigo amarelo", o Ocidente faria melhor se cuidasse do próprio deficit democrático.
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