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sexta-feira, 29 de julho de 2011

DOMINGO, VAMOS "SALVAR" O RECIFE ANTIGO!

Domingo é dia de “salvar” o Recife Antigo!

Por Edilson Silva

Domingo é dia de mais uma marcha em Recife: a marcha pela salvação do Recife Antigo. A iniciativa é de um grupo de jovens – em sua maioria mulheres, das periferias da cidade. Conheceram-se nas redes sociais, não têm partido, não são de nenhuma associação, de nenhum grupo organizado em particular. Em comum o fato de serem jovens, saudáveis, e a preocupação com o bairro que gostam de freqüentar como espaço de lazer, mas que está sendo tomado pelo tráfico e por assaltos, dos quais já foram vítimas.

A página do evento na rede social Facebook já conta com mais de 13 mil pessoas confirmando presença. Percebe-se que a população da cidade tem um sentimento de pertencimento com aquele espaço. O Recife Antigo é uma espécie de praia, onde cabem todas as classes, todas as tribos, todas as idades. Os jovens que tiveram a idéia e foram à luta estão de parabéns.

Quem não está de parabéns, muito pelo contrário, é o poder público. O tráfico e a violência criminosa que graçam ali são as faces mais cruéis das conseqüências do abandono do bairro. A ante-sala desta situação é a aparência de ruína em grande parte do bairro, os calçamentos irregulares, a escuridão, o desplanejamento irresponsável na ocupação do espaço pelo comércio informal (que mesmo na informalidade pode e deve ser disciplinado), a falta de fiscalização e controle no uso de carros particulares com equipamentos de som que mais parecem trios elétricos. É terra de ninguém!

A impressão que se tem é que o poder público, leia-se a prefeitura e mais especificamente o prefeito João da Costa, estão deixando o “diabo” tomar conta daquele território para depois vir com a solução final: a faxina geral. Essas faxinas geralmente têm o objetivo de privatizar espaços, de entregar a algum grupo privado “competente” a manutenção da ordem.

Quem não se lembra dos kombeiros? Ao invés de disciplinar a atividade e garantir uma mínima concorrência organizada e segura com as empresas de ônibus, deixaram a bandalheira solta até virar quase caso de polícia. A faxina depois veio em favor das empresas de ônibus, com o apoio da população que não agüentava mais a bagunça. Não podemos permitir que o mesmo aconteça com o Recife Antigo.

A “grande idéia” do secretário de turismo do Recife é reativar o “Dançando na rua”. A idéia é boa e deve ser saudada como bem vinda, mas ao mesmo tempo a idéia não é dele e só mostra que a atual gestão da prefeitura está na contra-mão do futuro. Porque acabaram com este evento? Além de não ter acabado com ele a prefeitura deveria ter já encaminhado um conjunto de ações simples para proteger a área. Mas não, a prefeitura, até aqui, parece só pensar em mega-empreendimentos, em mega-eventos, curiosamente somente ações que envolvem muitos recursos e onde alguns empresários podem lucrar à vontade. Já vi gente propor transformar a área numa espécie de Shopping Center horizontal.

A garotada que está organizando a Marcha pela Salvação do Recife Antigo está apresentando uma plataforma que deverá matar o poder público de vergonha, tamanha a simplicidade e efetividade das medidas: postos policiais permanentes e inteligência policial para acabar com o tráfico e os assaltos; iluminação e cuidados básicos com calçadas e a aparência do bairro; programação cultural permanente no bairro incentivando a produção local; legislação municipal para disciplinar a difusão sonora no bairro. A idéia é consolidar o bairro não só como um pólo de eventos, onde a população é tratada única e exclusivamente como consumidora, nem tão pouco tratar o bairro como uma praça para “inglês ver”, mas sim como um espaço cotidiano e plural de lazer e entretenimento para a população do Recife.

É por essas e outras que não abro mão da minha convicção de que uma verdadeira democracia é aquela em que a participação popular é uma constante. A democracia do futuro é aquela em que representantes e representados possuem espaços permanentes de diálogo e de decisão.

Todos ao Recife Antigo! Domingo, 15h30, na Torre Malakof.

Presidente do PSOL-PE
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terça-feira, 26 de julho de 2011

Charge do Felic

Do blog Pautaria

Como vocês observam o Felic, autor da arte abaixo, é um ótimo chargista. Esta charge está brilhante, muito bem sacada. Como todo artista trabalhador, vive da sua labuta, então noss colega está precisando fazer uns freelas. Quem souber de algo e puder ajudar é só mandar um e-mail para: felicianodosprazeres@yahoo.com.br


segunda-feira, 25 de julho de 2011

O "socialismo" de direita do PSB

Do Blog do Josias

Cevado pelo BNDES, Júnior do Friboi virou ‘socialista’


Roosewelt Pinheiro/ABr

Sob o comando do governador pernambucano Eduardo Campos (foto), o Partido Socialista Brasileiro está inventando uma ideologia sui generis: o socialismo de direita.
Em São Paulo, Campos abrigara no seu PSB o sem-indústria Paulo Skaff, presidente da Fiesp. Durou pouco. Socialista em 2010, Skaff já migrou para o PMDB.
Agora, a convite de Campos, aninhou-se no PSB o empresário José Batista Jr., um bilionário cujos negócios foram tonificados pelas verbas companheiras do BNDES.
Conhecido como Júnior do Friboi, o neo-socialista planeja candidatar-se a governador de Goiás em 2014, com o apoio do petismo, de Lula e de Dilma Rousseff.
Será a versão política de uma parceria que, nas arcas do BNDES, revela-se próspera desde 2009.
O bom e velho bancão estatal de fomento borrifou R$ 3,2 bilhões na caixa registradora do Friboi, a casa de carnes da família Batista.
Injetou mais R$ 2,5 bilhões no frigorífico Bertin, adquirido pelo Friboi.
Quando os Batista levaram seus negócios aos EUA, emitiram R$ 3,4 bilhões em debentures. O BNDES comprou 99,9% do papelório.
Natural, como se vê, que Júnior do Friboi opte por uma legenda governista no instante em que tenta empinar seu empreendimento político.
Nova estrela da ala direitista do PSB, o empresário talvez não consiga eleger-se governador. Mas pode resolver o grande drama do socialismo: a falta de capital.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uma tréplica a Sergio Xavier, o Rei Mudas

Por Edilson Silva

Rei Midas é um personagem da mitologia grega, um rei que, mesmo muito rico, desejava sempre mais ouro. Seu desejo teria sido atendido e num certo dia Midas acordou tendo tudo o que tocava transformando-se em ouro. Ao ver seus lençóis transformados em ouro gostou muito, mas ao tocar seu primeiro pedaço de pão e vê-lo transformar-se em ouro e ao beijar sua filha e vê-la também transformada numa estátua de ouro, viu que era portador de uma maldição: a “maldição de Midas”. Contudo, o que se perpetuou foi o “Toque de Midas”. Tudo o que ele tocava virava ouro.

Pois não é que Sergio Xavier, o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do governo estadual, quer “reciclar” a mitologia? Quer ser o “Rei Mudas”. Tudo o que ele toca fica verde. É o “toque de Mudas”, o Rei da Clorofila. O governo Eduardo Campos, com o simples toque de Sergio Xavier, ficou verdinho. Do MangueBrita à sustentabilidade ambiental, num único toque.

Leiam o que Sergio teve a coragem de escrever e publicar: “(...) para reverter décadas de degradação, o governador Eduardo Campos está comprometido sim com a complexa implantação de políticas públicas integradas, visando colocar Pernambuco no rumo da economia sustentável do século 21”. Eco-liberalismo é um equívoco histórico e uma inviabilidade sistêmica, mas pode até ser uma proposta sincera. Mas eco-charlatanismo seria inaceitável. Por favor!

Os “avanços” listados por Sergio após a criação da sua secretaria são um desrespeito à inteligência alheia. Ele pegou suas promessas do período eleitoral e colocou o timbre do governo do estado. É lançamento do plano disso, do programa daquilo, só discurso. O secretário incorporou o feio hábito ensinado pelos marqueteiros dos governos, de lançar a intenção de fazer como se fosse programa da gestão e ficar fazendo propaganda. Aí é uma festa para o anúncio da intenção, outra para a assinatura do protocolo, outra para a visita dos gestores ao terreno onde se tem a suposta intenção de iniciar a obra, outra para o lançamento da pedra fundamental, etc. E nisso lá se vão uns quatro anos sem nada de palpável, tempo de novas eleições. Para mim isto é repugnante!

O secretário fala em revitalização da pesca artesanal? Onde? Cadê a Resex (Reserva Extrativista), na área de Sirinhaem a Ipojuca, tão reivindicada pelos pescadores que o secretário sequer recebe? Protótipo de Recicleta? Está sendo testado onde, no pátio da Secretaria? Os carroceiros ainda não experimentaram esta intenção, caro secretário. Projeto de recuperação da faixa de areia das praias? Jaboatão já tinha um plano antes de existir a sua secretaria e pelo que me consta seu governo só faz atrapalhar a concretização por mesquinharia política.

Debate público sobre sacolinhas plásticas? Desculpe, Rei Mudas, mas este debate não foi obra do seu toque. Fortalecimento do Conselho Estadual de Meio Ambiente? Como uma secretaria que não manda nem na CPRH pode arvorar-se a fortalecer um Conselho Estadual? Aliás, a sociedade viu recentemente que a CPRH está sucateada e seus funcionários vivem um enfrentamento cotidiano com a direção do órgão, que é a mesma da época do manifesto MangueBrita. Ou será que um simples aperto de mãos do Rei Mudas também esverdeou o Gurgel?

Plantio de mudas como programa de governo? Isso não é nada original e quem lê este texto sabe que esta prática é tão louvável quanto antiga: plante uma árvore! A novidade boa estaria em não destruir nosso meio ambiente, mas nisto Sergio Xavier está fechadinho com o chefe Eduardo Campos, aterrando manguezais.

Não poderia deixar de falar aqui sobre o caminhãozinho elétrico da secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Pouquíssima gente percebeu, mas este protótipo, que segundo o auxiliar do governador não emite CO2, está sendo utilizado em Fernando de Noronha, onde a energia elétrica é obtida através de geradores a óleo combustível. Não acredito que seja má-fé de Sergio, mas desinformação, pois este veículo que roda lá em Noronha é movido a óleo combustível, indiretamente. Ou seja, está lá emitindo CO2, ao aumentar a carga elétrica instalada na ilha. Portanto, seria menos desonesto o secretário dar uma boa desculpa e dizer que ainda está estruturando a sua secretaria, do que ficar inventando factóides, que podem até colar no imaginário de desinformados, mas não enrolam uma oposição atenta e coerente.

Sobre o “sambinha de uma nota só”, trata-se de um clássico, ou seja, nunca envelhece, sempre atual. Meu samba não é modismo de período eleitoral. Prova disso é que estou aqui, onde sempre estive, e Sergio está lá, onde tanto criticou no período eleitoral. Portanto, onde o secretário vê vício no meu sambinha, está a maior virtude: ética e coerência política compõem uma nota só, e não abro mão desta nota, seja por quantos cargos forem. E ofertas não faltaram.

Mas o secretário acha que a sua metamorfose permanente é que é uma virtude. E o pior é que tenta justificar o estilo “lá e cá” com argumentos lamentáveis, como dizer que os que não se submetem aos governos “(...) só ficam no discurso e nunca fizeram nada na vida real da gestão pública (...)”. É mais contradição com o discurso de nova política que o secretário quer incorporar. Quer dizer que os milhares de ativistas e militantes que batalham nos movimentos sociais, ONGs, nas conferências públicas, nos conselhos, debatendo os problemas e apresentando soluções para os mais variados temas da sociedade – e que gestores como você agora não cumprem -, nunca fizeram nada na vida real da gestão pública?

Afirmo e reafirmo, em período eleitoral e fora de período eleitoral: temos que acabar com o monopólio e o abuso dos políticos na gestão pública! Temos que fortalecer as conferências públicas, dar mais força e autonomia aos conselhos, ampliar as consultas diretas por plebiscitos e referendos, diminuir os obstáculos para a apresentação de projetos de iniciativa popular, desidratando o poder dos políticos que ocupam a gestão pública com seus incontáveis apadrinhados em cargos de confiança, como o Sergio Xavier agora, que tem lá à sua disposição 50 cargos. Quantos são concursados, mesmo?

Fazer política na oposição é difícil. É preciso ter uma equipe de resistentes que estejam preparados para viver com “pouca água e pouca ração”, exatamente para não se deixarem seduzir pelas migalhas oferecidas no banquete dos poderosos. Infelizmente, a nota do secretário mostra um político tradicional, conservador e ideologicamente envelhecido, que não consegue ver-se desapegado das arcaicas estruturas do poder. E ele não pode nos acusar de não ter-lhe dado um voto de confiança e a oportunidade de mostrar mesmo para a oposição que poderia ser um oásis verde no meio do governo.

Sinto muito caro Sergio, não vai aqui nada de pessoal, você sabe, mas não posso lhe desejar sorte lhe vendo servir desta forma a um governo tão charlatão. Para evitar novos apagões no manifesto MangueBrita no blog do Sergio Xavier, vou mantê-lo no meu, assim não corremos o risco de esquecer como o Rei Mudas – um apelido carinhoso -, era outro no curtíssimo período em que foi oposição.

Presidente do PSOL-PE e membro do Movimento Ecossocialista de Pernambuco
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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Você samba de que lado, Sergio Xavier?

Por Edilson Silva

Conheci pessoalmente o Sergio Xavier em 2009, quando do processo de filiação de Marina Silva ao PV. De lá pra cá, estreitamos minimamente nossa relação política e disputamos juntos o governo do Estado em 2010. Num dos debates televisivos, tamanha a afinidade com suas propostas, fiz uma brincadeira séria dizendo que em meu governo o convidaria para ser meu secretário de Meio Ambiente. Ele, sempre muito educado, retribuiu a gentileza e também me “nomeou” seu secretário num futuro governo.

Passada a eleição, nem eu e nem Sergio fomos eleitos. Como não faço política pensando em projetos pessoais, pensei com muita honestidade: vamos juntar os nossos “votinhos” em Pernambuco, votos muito dignos, e fazer uma oposição coerente e com mais força em nosso estado. Afinal, a química PSOL com PV, com toda a simbologia das duas propostas, com a dimensão demonstrada pela votação da Marina Silva, poderia gerar uma força política razoável para, mesmo fora dos governos, dialogar e mobilizar a sociedade civil, os movimentos sociais, em defesa das demandas mais sentidas pela população.

Malandramente, o governador Eduardo Campos, de olho no discurso ambiental (e não na proposta ambientalista), buscou cooptar o ex-candidato verde para o seu governo. Como não era de se esperar – pelo menos eu não esperava -, Sergio aceitou ser secretário do governador. De duas, uma, pensei: ou Eduardo Campos repensou seu modelo predatório de crescimento, diante da grande votação de Marina Silva em Pernambuco, ou Sergio Xavier foi cooptado facilmente pelo governo. Na dúvida, meu partido, o PSOL, soltou uma nota dando ao novo secretário Sergio Xavier um voto público de confiança (http://edilsonpsol.blogspot.com/2011/01/nota-da-executiva-estadual-do-psol.html ). Este gesto buscou simbolizar também nossa firme e honesta disposição de trabalhar politicamente uma unidade com os “verdes”.

Contudo, após praticamente um semestre à frente da pasta do Meio Ambiente e Sustentabilidade, vemos que o governo Eduardo Campos não mudou, e que seu secretário de Meio Ambiente não está nada parecido com aquele candidato das eleições de 2010. A secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade é um mero aparelho de factóides do governo do Estado. A CPRH, grande queixa do movimento ambientalista de PE, continua com a mesmíssima gestão de antes, totalmente desvinculada da nova secretaria e com os mesmos problemas. Na crise das enchentes, nada de secretaria de Meio Ambiente. Na mobilização que está havendo agora contra os agrotóxicos na agricultura pernambucana, outras secretarias participam sempre para justificar a opção anti-ambientalista do governo, mas ninguém nem ouve falar da secretaria de Meio Ambiente.

O meu querido Sergio Xavier teve agora, com a saída de Marina Silva do PV, uma excelente oportunidade de sair do governo e denunciar a manobra de Eduardo Campos em querer incorporar ao seu governo um selo verde de mentirinha. Mas, para a minha maior surpresa, Sergio está discursando por aí que está com Marina Silva para construir uma nova política, mas ao mesmo tempo ficou no PV e, pior, mantém-se como secretário de governo! Ou seja, ele quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo: dentro do PV; fora do PV; construindo a nova política; participando como secretário de governo da velha política.

O governador Eduardo Campos, após a licença de seu secretário da presidência do PV, disse que não havia porque mudar a secretaria, pois estava satisfeito com o seu auxiliar. Óbvio! A micro-secretaria, com cerca de 50 cargos, não faz nada no sentido de mudar a essência de seu governo, não critica nada, não abre a boca sobre as enchentes, sobre Suape, sobre os agrotóxicos, sobre a extinção das praias do litoral sul da região metropolitana, não sugere nada que faça qualquer inflexão minimamente relevante no governo.

Com todo o respeito, mas secretaria para fazer propaganda de um caminhãozinho elétrico é muito pouco para Sergio Xavier emprestar seu discurso de sustentabilidade ambiental para um dos maiores representantes da velha política com nova roupagem no Brasil: o PSB de Eduardo Campos.

Procurei no blog do Sergio Xavier um excelente artigo que ele escreveu em julho de 2010, quando era candidato ao governo, para explorá-lo neste texto. Mas para a minha surpresa, o “Manifesto MangueBrita”, que fazia corretas críticas ao governador Eduardo, sumiu do seu blog. Como eu o tinha guardado com carinho, publiquei no meu blog ( http://edilsonpsol.blogspot.com/2011/07/na-contramao-do-manguebeat-governo-de.html ) e convido os leitores mais pacientes para lê-lo, ou relê-lo. A atitude de tentar deletar idéias me lembra muito Fernando Henrique Cardoso: “esqueçam o que escrevi!”. Ou então Lula: “era tudo bravata!”. Nada mais velho na política: a antiga e condenável charlatanice.

Em minha modesta opinião, ainda há tempo de Sergio reconciliar-se com seu discurso mais bonito e mais correto. Há tempo ainda de estar nas audiências públicas sobre novos estaleiros em Pernambuco ao lado da população, dos pescadores, e não escondido atrás de um birô. Há tempo de estar ao lado dos agricultores, dos movimentos sociais e das ONGs sérias que lutam contra os agrotóxicos na agricultura. Ao lado dos manifestos anti-nucleares. Ao lado dos que lhe confiaram a esperança de uma nova forma de fazer política. Mas para isto, precisa responder definitivamente a uma pergunta: de que lado você samba, Sergio Xavier? Eu torço, ainda, para que sambe do lado certo, que é na oposição a este governo tão bem definido por ele em 2010: governo MangueBrita.

Presidente do PSOL-PE
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Na contramão do MangueBeat, governo de Eduardo Campos lança MangueBrita em Suape

Por Sérgio Xavier, no seu blog, durante as eleições de 2010, quando era candidato ao governo de PE. Hoje Sergio é o secretário de Meio Ambiente do governador reeleito Eduardo Campos.

Nos anos 90, com Chico Science e Fred Zeroquatro, Pernambuco se notabilizou com o movimento MangueBeat, arte inspirada na diversidade e importância dos nossos manguezais. http://bit.ly/b5SZU7

Agora, desejando cobrir de concreto o imenso manguezal de Suape, o Governo do Estado lança o que podemos chamar de MangueBrita.

É o velho poder econômico varrendo o bom senso e impondo caminhos sem qualquer imaginação, sem sequer avaliar se não há alternativas mais inteligentes, equilibradas e também lucrativas.

Assusta constatar que planejadores e gestores governamentais sempre optam por saídas baseadas na exclusão. OU fábricas OU mangues. OU pescadores OU técnicos. OU pequenos agricultores OU gerentes de indústrias. Nunca passa pelas suas cabeças mecanicistas a idéia de que é possível somar, integrar, e ter tudo isso ao mesmo tempo: fábricas, mangues, agronegócios, matas, turismo, rios, assegurando espaços para pescadores, doutores, operários, comerciantes, agricultores, cidadãos de hoje e gerações futuras.

Se observassem a riqueza equilibrada do próprio manguezal perceberiam que o segredo da sua vitalidade é exatamente a complementaridade, a convivência colaborativa, a megadiversidade, o funcionamento sistêmico. Se a natureza é tão perfeita, porque não seguir seu exemplo? Em vez de matar o mangue seria mais inteligente aprender com ele, imitá-lo na economia e aproveitar sua riqueza com sabedoria e sensibilidade.

Talvez esses tensos senhores estejam precisando descontrair, pegar uma praia, tomar uma cervejinha gelada, ouvir boa música e pensar melhor:

“Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor”, Chico Science e Nação Zumbi

MAR DE CONCRETO

O Projeto de Lei Nº 1496/2010 ( http://bit.ly/afcWcg ), proposto pelo governador Eduardo Campos, visando desmatar 1.076 hectares de mangues e matas nativas no porto de Suape (quase 11 milhões de metros quadrados) foi aprovado esta semana pela Assembléia Legislativa, mesmo com parecer contrário da Comissão do Meio Ambiente http://bit.ly/d234s8 .

Entre os 40 deputados presentes, apenas 11 votaram contra, entre eles, Lucrécio Gomes, do Partido Verde (PV) http://bit.ly/aO30nK

Nas negociações pelos votos dos parlamentares, sem maiores explicações, o governo anunciou redução do desmatamento do mangue: de 893 para 508 hectares – 385 hectares a menos que a proposta inicial. Com essas mudanças, decididas em reuniões fechadas, sem apresentação de estudo consistente ou justificativa pública, fica uma grande dúvida sobre a real necessidade e viabilidade do megadesmatamento. Se 385 hectares não precisam ser devastados por que estavam inseridos na lei? E como esta parte minoritária conseguirá sobreviver desmembrada dos 508 que serão extintos? Será que não é apenas um jogo para destruir tudo depois?

“PV reage à aprovação de projeto na Alepe” http://bit.ly/clk1Mr

O texto original revela a total falta de compromisso socioambiental do governo. São 13 páginas listando friamente as áreas a serem desmatadas, apenas 6 linhas citando burocraticamente as “compensações ambientais” e nenhuma palavra, isso mesmo, zero, sobre os impactos e as possíveis compensações sociais. Sabemos que na região existem comunidades que vivem da pesca, que serão diretamente afetadas com a supressão radical dos manguezais, mas a Lei não dá a mínima atenção a isso.

SUAPE E O MITO DO CRESCIMENTO A TODO CUSTO

É hora de abrir um debate transparente sobre o papel de Suape no desenvolvimento de Pernambuco. Há muita propaganda, mas a realidade mostra-se menos generosa. Como explicar que em meio a tantos investimentos, que atingem bilhões de dólares, o município de Ipojuca, que sedia o complexo, tem mais de 32% de analfabetos, 61% com renda familiar abaixo do mínimo e 64% sem saneamento? Algo está errado. O “crescimento econômico” não está gerando o desejável desenvolvimento social.

Portanto em vez de praticar mais devastação o governo precisa realizar as compensações socioambientais pendentes, prometidas, formalizadas e nunca implementadas, e construir, junto com a sociedade, um plano consistente de inclusão social e sustentabilidade ambiental. Somos favoráveis à instalação de novas empresas em Suape, mas é plenamente possível que isso seja feito preservando nosso patrimônio natural. Em vez de trocar um grande mangue, uma grande “fábrica natural”, por outra artificial, queremos garantir as duas coisas: as fábricas e os mangues. Esta é a tendência do mundo desenvolvido no século 21: a convivência pacífica e harmoniosa da economia com a ecologia e o social. Este é o desenvolvimento sustentável que tanto defendemos.

Não queremos apenas barrar a devastação, nosso desejo é formular um ecoplanejamento para transformar Suape em um modelo de convivência equilibrada de todas as vocações da região: turística, residencial, histórica, ambiental, portuária e industrial. Não podemos olhar só para uma dessas vocações e comprometer as demais. Não podemos destruir uma “fábrica” natural de peixes, crustáceos e outros inúmeros “bioprodutos”, que têm valor ecológico, econômico e social, para colocar no lugar um negócio que pode beneficiar uns poucos e prejudicar muitos, hoje e no futuro. E que é irreversível do ponto de vista ambiental e, por isso, condenável do ponto de vista ético. Como nos ensina o mangue, é preciso estudar formas de obter todas as coisas simultaneamente, de uma forma onde todos participem e sejam beneficiados, garantindo o bem comum.

SUAPE SUSTENTÁVEL

Há poucos dias, sobrevoei o complexo de Suape com a senadora Marina Silva (PV-AC), e o ex-presidente do Ibama, Bazileu Margarido. Registramos imagens aéreas, coletamos dados e estamos reunindo informações com especialistas de diversas áreas do conhecimento para propor um modelo de desenvolvimento sustentável para o complexo industrial e portuário (é lamentável que o governo com tanta estrutura e recursos não esteja fazendo isso). Os verdes querem discutir formas de instalar novas empresas em Suape e em outros pontos do Estado, descentralizando e interiorizando a geração de oportunidades, sem comprometer ainda mais o equilíbrio socioambiental do nosso Estado. As intervenções realizadas anteriormente em Suape já geraram reflexos muito graves, como a mudança de hábitos dos tubarões, que migraram para Boa Viagem (já mataram dezenas de pessoas e afetaram o turismo), e a erosão na orla de Jaboatão. Precisamos evitar novas tragédias ambientais.

DEBATE EM VEZ DE DESMATE

A Lei foi aprovada, mas a luta para garantir a instalação de empresas sem acabar com os mangues, rios e matas não está perdida. Antes do desmate é fundamental o debate. A força da sociedade é maior que os encaminhamentos burocráticos de um Governo e de uma Assembléia, feitos sem apreço pela transparência e pela discussão profunda. Impressionam a superficialidade e ligeireza das discussões e a falta de argumentos convincentes para tamanha devastação. A “Lei do UltraDesmatamento” tem aspectos muito preocupantes. Seguem alguns:

- Não considera impactos socioeconômicos sobre as comunidades locais

- Não tem base em EIA/RIMA atualizado, portanto não se sabe, por exemplo, onde vai explodir a força das marés, se estas forem desviadas do vai-e-vem natural da área estuarina (vão bater ainda mais na orla de Jaboatão? Quem sabe?)

- Não considera outras potencialidades econômicas da região, como Pesca e Turismo (nem considera o valor econômico e financeiro do próprio mangue vivo, que pode ser objeto de projeto de compensação de carbono)

- O histórico de Suape mostra que nunca são realizadas as prometidas compensações socioambientais (o que se vê é o oposto)

- Não são apresentados dados que mostrem resultados socioeconômicos (desenvolvimento humano imediato) que demonstrem “compensar” tamanha destruição (os indicadores sociais de Ipojuca são uma prova de que o “crescimento econômico” não está se traduzindo em melhoria de vida das pessoas: Enquanto Pernambuco tem 24% de analfabetos (um numero assustador), Ipojuca é ainda pior: tem 32% de analfabetos, 65% sem saneamento e 61% com renda familiar abaixo do salário mínimo (e ostenta um dos piores IDHs – Índice de Desenvolvimento Humano do Estado).

- Falta total de transparência do governo. Ninguém sabe como será o projeto de expansão, não foi divulgado o novo plano diretor. Estudos sobre os problemas do complexo (realizados recentemente por instituições internacionais) estão engavetados. O governo aparece mais preocupado em defender o interesse das empresas do que o grande interesse público.

- Além disso, não sabemos o quanto de investimento público está sendo aplicado nesta operação. Certamente estes recursos seriam melhor aplicados em um grande programa de descentralização da industrialização, com incentivos a projetos com tecnologias sustentáveis.

- A indústria naval é um setor muito problemático no Brasil, cujo futuro é uma interrogação. Há estaleiros abandonados no Rio e em outros lugares.

Por tudo isso, avançaremos nesta luta com muita firmeza. Queremos Pernambuco como modelo de desenvolvimento inovador e sustentável e não como referência do velho modelo econômico, baseado no crescimento a todo custo, na exclusão e na degradação ambiental.

Hora de resgatar o conceito-mangue e avançar por novos caminhos!

“Da lama ao caos, do caos a lama…
Ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”, Chico Science e Nação Zumbi

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tem que encarar o povo, João da Costa

Por Edilson Silva

“Não sou culpado por todos os problemas que tanto incomodam a cidade”. Foi este o tom da aparição do prefeito do Recife, João da Costa, esta semana na imprensa pernambucana. O tom, se na forma tenta esboçar uma espécie de reação, no conteúdo mostra um prefeito perdido, absolutamente na defensiva, admitindo que a cidade está ruim aos olhos da população e que as responsabilidades devem ser socializadas. Ou seja, as coisas boas são da sua lavra, mas a desgraceira é um patrimônio de todos.

A fala do prefeito, observada transversalmente com a conjuntura política que o cerca, na realidade é um misto de desespero e de desânimo, de quem olha para trás e vê que não fez o que devia quando ainda tinha tempo, e olha para frente e vê que não há mais tempo para fazer o que deve ser feito.

Este cenário combina-se dialeticamente, ou oportunistamente, com o abandono gradual da gestão por parte de aliados. As feridas abertas mais visíveis são o PTB e o ex-prefeito João Paulo, mas a chuva de alfinetes sobre o prefeito parte de todos os quadrantes “aliados”. E como na política um pouco de sorte também conta, o prefeito tem o azar de ver a sua sucessão como parte da sucessão do governador Eduardo Campos, fator que exerce uma força centrífuga no núcleo da aliança que o sustenta.

Cada chuva que cai sobre o Recife é um flash para as manchetes contra o gestor. Alagamentos, engarrafamentos, semáforos que não funcionam, os problemas com o lixo, agora com a merenda. Os buracos nas ruas e avenidas que vão se transformando na marca de sua gestão. João da Costa já caiu no desgosto do povo, e ele sabe disso. Não pode andar pelas ruas, nos eventos públicos, sem um mínimo de planejamento, pois as vaias são sempre uma ameaça, como a que ele recebeu em pleno Baile Municipal. Nos festejos juninos, por sorte ou azar, teve um problema ortopédico que o impediu de sair às ruas. Livrou-se do calvário!

Além disso, quem anda pelos cantos e recantos da cidade também sabe que João da Costa pegou uma inhaca que grudou nele mais do que noda de caju: a de ingrato. E ingratidão, para o povo, cheira a traição. A vítima da traição, na boca do povo, é o ex-prefeito João Paulo que, todos sabem, é muito bem quisto na cidade.

É neste cenário que o prefeito João da Costa está enfiado e é por isso que ele, no desespero, tenta culpar a Compesa por um buraquinho ali, São Pedro por uma chuvinha mais grossa acolá, culpar as leis da física pelas descargas elétricas que interferem nos semáforos, etc. E no meio disso tudo precisa fazer seu teatro, de que dá pra virar o jogo, contando com uma performance espetacular de algum marqueteiro, só pode ser.

Sugiro ao prefeito que aproveite a Festa de Nossa Senhora do Carmo nestes dias – não pode temer as vaias, tem que enfrentar! -, encare o povo, faça uma promessa daquelas bem fortes, e torça para que Ela lhe atenda, porque marqueteiro pode até ajudar, mas não faz milagre.

Presidente do PSOL-PE
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Marina Silva fora do PV: bom sinal

Por Edilson Silva
Quando Marina Silva saiu do PT e resolveu ingressar no PV, há cerca de dois anos, fui um dos que saudaram seu movimento como algo muito positivo na conjuntura política brasileira. Na condição de presidente do PSOL em Pernambuco, prestigiei sua primeira visita ao estado na condição de nova filiada ao PV, quando esta propagava a refundação da sigla verde.

Mais tarde, quando de sua pré-candidatura à presidência já definida, fui um dos maiores defensores, dentro do PSOL, de uma aproximação com sua candidatura, propondo estabelecer entre as legendas um debate político-programático. Como é do conhecimento geral, as negociações programáticas não avançaram e Marina saiu candidata sem aliança com o PSOL, que por sua vez lançou outra candidatura. Marina, com uma votação surpreendente, apresentou-se e foi interpretada pelo país como uma perspectiva do novo e da mudança.

Dois foram os fatores principais que não permitiram que as conversas com a candidatura de Marina fossem adiante. O primeiro, talvez o principal, foi a não disposição de se avançar no debate sobre a política econômica praticada em essência por FHC e Lula, que privilegia de forma absolutamente desproporcional o capital financeiro. O segundo fator foi o apego do PV, então partido de Marina, à velha política. A aliança de Gabeira, então candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV, com o PSDB do então candidato à presidência José Serra, selou a simbologia das contradições que estavam colocadas para uma unidade naquele momento.

Se quando saiu do PT Marina agregou ao seu capital político a marca da coerência em relação ao seu compromisso com desenvolvimento sustentável, com a defesa do meio ambiente, e também com a ética, pois dos petistas históricos que ocuparam ministérios foi das únicas que não se envolveu em escândalos, agora sua saída do PV lhe confere mais um valor: a defesa de outra democracia contra a velha política. Com isso, Marina se desfaz de uma terrível contradição que lhe perseguia, pois o PV há tempos já havia se tornado um partido fisiológico, velho, alugado em vários estados, chafurdando no que de pior existe na política brasileira.

Com esta movimentação, saindo do PV, com o discurso que está fazendo, Marina coloca-se em harmonia com um sentimento popular que ultrapassa fronteiras contra o monopólio da política dos partidos e suas elites carcomidas, o movimento que ocupa praças e ruas no norte da África, na Europa, e também nas incontáveis passeatas pelo Brasil.

Ao tornar-se uma grande referência nacional na defesa de um outro padrão de desenvolvimento e crescimento econômico, ambientalmente sustentável - como o fez na luta do Código Florestal, e agora agregando a isto a luta contra o regime pseudo-democrático apodrecido das elites do país, Marina se aproxima muito de fechar uma triangulação programática inescapável para quaisquer forças políticas que queiram realmente mudar nosso país em favor das maiorias excluídas, das minorias oprimidas e em desa do meio ambiente.

Esta triangulação se fecha com conclusões mínimas a respeito de outra política economia. Outro padrão de crescimento e desenvolvimento, assim como outro regime político, participativo, ético, transparente, são incompatíveis com um orçamento público seqüestrado pelo capital financeiro especulativo, que leva por baixo, todos os anos, mais de 35% de todo o orçamento, cifras sempre superiores a R$ 350 Bilhões anuais.

São estes recursos que estão fazendo falta para se estabelecer 10% do PIB para a educação; para se aprovar a Emenda 29 que pretende ao menos duplicar os recursos para a saúde pública; para se constituir um piso nacional dos policiais militares (PEC 300); para habitação, saneamento, reforma agrária, cuidados com nossos biomas, etc. Enfim, são estes recursos que faltam para se iniciar uma virada real e estrutural no país.

Assim como Marina Silva concluiu que o governo do PT não lhe cabia, e depois concluiu rapidamente que o PV não lhe cabia, espero sinceramente que ela também conclua que não cabem desenvolvimento sustentável e um novo jeito de fazer política dentro de um modelo econômico que privilegia um punhado de especuladores, que assaltam os cofres públicos com ferocidade criminosa e o silêncio e a cumplicidade covardes dos governos de plantão.

Presidente do PSOL-PE e membro de sua Executiva Nacional
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